Amazon

Banner 728x90

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Tolkien

O encontro com Beorn (livro)


A sequência da adaptação de “O Hobbit” para o cinema continuou cumprindo com maestria seu papel de mostrar a dura jornada dos anões em retorno ao seu lar, Erebor, e assim, a importância de se lutar por um ideal.

Outro objetivo, proposital ou não, que o filme também alcançou inquestionavelmente foi o de despertar no leitor a obrigação de ler a obra original de J.R.R. Tolkien, se ele quiser conhecer de fato a verdadeira história de Bilbo e os anões.

No primeiro filme da trilogia, “Uma jornada inesperada”, eu me posicionei contra a crítica que atacou sem piedade a adaptação. Mas somente agora entendo porque Christopher Tolkien, filho do autor, repudiou com extrema indignação as adaptações de Peter Jackson e Cia., declarando a respeito ao jornal francês “Le Monde”: “As vísceras da obra do meu pai foram arrancadas”.

Mas “O Hobbit” não é a única obra que sofre as dores do parto quando ganha vida no cinema pós-moderno. As possibilidades infinitas trazidas pela computação gráfica e outras tecnologias parecem ter embotado a inteligência dos roteiristas e diretores, os quais habitualmente têm descuidado a atenção da essência das obras. No afã de usar seus “brinquedos”, acabam produzindo conteúdos que não correspondem à realidade do texto original, cometendo assim verdadeiras arbitrariedades que não deixam de indignar fãs e o público no geral.

Tomemos como exemplo o desenho “O Hobbit”, de 1977 (disponível no Youtube). Praticamente não há desvios do roteiro em relação à narrativa de Tolkien. Naturalmente, existem detalhes que poderiam ser melhorados, mas o que conta mais pontos é a fidelidade ao roteiro, o que faz a animação com todas suas limitações técnicas bater de longe os dois filmes de Peter Jackson.

Por outro lado, se algo pode ser dito em favor de “A desolação de Smaug”, é que, mesmo cheio de acréscimos desnecessários e distorções, é um trabalho que não deixa de contribuir para que o legado de Tolkien continue sempre lembrado no mundo do entretenimento. Aliás, acredito que se ainda estivesse vivo, J.R.R.Tolkien, ao invés de enfurecer-se com a deformação do seu texto transmutado para o cinema, veria da mesma forma este lado positivo.

Não listarei todas as disparidades do filme em relação à obra original (seria mais sucinto falar dos acertos), então, seguem as que considero mais importantes (ou piores, se preferirem):

·         O fatídico e casual encontro de Gandalf e Thorin em Bri: tal encontro está registrado na literatura de Tolkien, não exatamente em “O Hobbit”. Gandalf não incita exatamente Thorin a reunir as sete famílias de anões para retomar Erebor, na verdade, os dois tem uma preocupação em comum (Smaug) e definem um plano que desemboca nos acontecimentos narrados em “O Hobbit”.

·         O encontro com Beorn: Se alguém por acaso se virou para jogar o saco de pipoca no lixo certamente não viu o homem-urso. Um dos personagens principais da obra recebeu apenas poucos minutos de aparição, desperdiçados com uma versão inverídica – Beorn nunca foi prisioneiro de Azog (ele já estava morto à época de “O Hobbit”), muito menos seu povo foi exterminado pelos orcs de Dol Gudur. Tomara que no próximo filme Beorn receba o papel que lhe é de direito.

·         Sauron finalmente é revelado por trás da figura do “Necromante”, uma estratégia de roteiro para tornar mais explícito o vínculo de “O Hobbit” com “O Senhor dos Anéis”, assim como a aparição de Legolas, quem não aparece em “O Hobbit”, mas de fato já vivia à época (é um elfo imortal) e morava na Floresta das Trevas, sendo filho do Rei Élfico Thranduil (o qual nunca foi mutilado lutando contra dragões do Norte, pelo menos segundo os relatos de Tolkien. Os únicos elfos que lutaram contra dragões eram da Primeira Era, ver “O Silmarillion”).

·         A breve perda do Anel por Bilbo na Floresta das Trevas nunca aconteceu, assim como seu aprisionamento pelas aranhas gigantes.

·         O affair entre a elfa Tauriel (inexistente na obra de Tolkien) e o anão Kíli: Tolkien relatou alguns casos de amor e união entre raças diferentes, jamais um anão e uma elfa, menos ainda em “O Hobbit”. Vale dizer: O Hobbit é um livro a princípio infantil.

·         Bard: outro personagem mal explorado. Enfatizaram sua boa pontaria, mas ele não é um barqueiro (além da rima, barqueiro e arqueiro não têm nada a ver entre si), e se esqueceram de lhe dar uma caracterização mais profética e melancólica, típicos do personagem. Bard não se opõe ao Senhor da Cidade do Lago como é mostrado, num ambiente de intriga política (como não podia deixar de ser, sempre irrigado com álcool – o “brandy”, e um puxa-saco). O arqueiro é aclamado como líder pelo seu povo em circunstâncias naturais. Provavelmente, os roteiristas quiseram aproveitar para fazer uma crítica aos políticos da vida real.

·         Os anões não entram clandestinos na Cidade do Lago, pelo contrário: quando se declaram como os anões de Erebor que retornam, são aclamados com todas as honrarias.
·         Smaug não se dá conta do Anel que Bilbo carrega, e muito menos este se revela ao dragão em momento algum. A menção do anel pelo dragão foi certamente um artifício para dar aos espectadores a dimensão dos receios de Gandalf, caso ambas as forças (o dragão e o Sauron) se aliassem.

Finalmente, Tolkien detestava manifestamente alegorias, ou seja, dizer uma coisa através de simbolismos, contudo, é difícil não associar o preguiçoso e arrogante Smaug enterrado no imenso tesouro de Erebor ao comportamento daqueles poucos que vivem em verdadeiros e opulentos “salões” com “leitos de ouro”, enquanto a maioria padece na miséria, cujos destinos sofrem drasticamente a interferência de sua ganância deliberada (como o povo de Valle e posteriormente, da Cidade do Lago, por exemplo).
Contra tal “doença”, como é dito no filme, somente a persistência à prova de todos os obstáculos dos anões e a simplicidade de um hobbit quem se apodera por acaso do maior e pior de todos os tesouros, mas consegue mantê-lo seguro e em segredo, usando-o apenas para ajudar seus amigos.

Isso parece bastar para redimir a “desolação” que segunda parte da filmagem de “O Hobbit” fez na obra. Lembrem-se: não diga que conhece a história de “O Hobbit” sem antes ler o livro!

 


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

CONTAGEM REGRESSIVA!

O Hobbit - A Desolação de Smaug

Dia 13/12 nos cinemas

Bilbo contra as aranhas gigantes na Floresta das Trevas

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Afinal, o que é um "hobbit"?



Bilbo de volta à sua toca

Por volta do ano de 1050 da Terceira Era, os Periannath (como eram chamados em élfico) são citados pela primeira vez nos registros da época, quando chegaram a Eriador (a região junto à costa noroeste da Terra-Média). Ignora-se, porém, como surgiram e por que atravessaram sob risco as Montanhas Sombrias e a Grande Floresta ao leste, conforme contam suas histórias mais antigas, embora alguns dentre eles alegassem o crescimento do número de homens ali, ou “Pessoas Grandes”, como eles os chamavam, e o surgimento de uma sombra que caiu sobre a floresta, a qual passou a ser chamada Floresta das Trevas (tal poder era Sauron, na época fazendo-se passar por “O Necromante”, ocupando a fortaleza de Dol Gudur ali para reorganizar seu poder maligno).

O próprio Tolkien fala a respeito da origem desse povo no prólogo de “O Senhor dos Anéis”: “É fato que, apesar de um estranhamento posterior, os hobbits são nossos parentes, muito mais próximos que os elfos, ou mesmo que os anões. (...) A origem dos hobbits se situa nos Dias Antigos, agora perdidos e esquecidos.”

A origem do nome “hobbit”, como eles chamavam a si próprios, jaz igualmente esquecida. Os homens os chamam de “Pequenos”, os elfos, como já citado, “Periannath”. Uma sugestão pode ser encontrada na palavra usada pelos homens de Rohan, a Terra dos Cavaleiros, para nomeá-los, “holbytla”, evidentemente um cognato entre as duas línguas, que quer dizer “construtor de tocas”.

Somente em 1601 eles são citados como fonte histórica, quando os irmãos Cascalvas Marcho e Blanco deixaram Bri (uma remanescente de suas comunidades mais antigas) acompanhados por muitos hobbits para habitar as terras que seriam conhecidas como “Condado”, sob a permissão do rei Argeleb II de Arnor, reino-irmão de Gondor, fundado por Elendil, pai de Isildur (Ver “O Senhor dos Anéis), o qual naquele tempo ainda não havia chegado ao fim. Com a queda de Arnor, os hobbits se apoderaram das terras do rei e nela viveram conforme seu costume.

Ainda no prólogo da obra citada, Tolkien fornece numerosos detalhes sobre o perfil geral de um hobbit: eram pequenos, medindo entre 60 cm e 1,20 metros, tinham dedos longos e hábeis, seus pés tinham solas grossas e eram cobertos por pelos grossos e encaracolados, geralmente de cor castanha, como seus cabelos, razão pela qual raramente usavam sapatos. Seus rostos eram simpáticos, com olhos brilhantes e bochechas vermelhas. Gostavam de brincar, comer e beber, sempre que possível, faziam cinco refeições por dia. Suas roupas eram de cores vivas, preferencialmente o verde e o amarelo. Moravam, em geral, em tocas escavadas e confortavelmente no chão, mas alguns viviam em construções na superfície da terra.

Entre si, os hobbits se diferenciavam em três raças distintas: Os “Pés-peludos”, os quais tinham a pele mais escura, eram menores e mais baixos, e preferiam morar em regiões montanhosas, e tinham afinidade com os anões. Os “Grados” (povo ao qual pertencia Sméagol, ou “Gollum”) eram mais corpulentos, com pés e mãos maiores, preferiam regiões planas e banhadas por rios, e aproximavam-se com mais facilidade dos homens. Finalmente, os “Cascalvas” tinham estatura maior, cabelos e pele mais claros, e gostavam mais de árvores e florestas, e se entendiam melhor com os elfos.

Nunca foram um povo dado a guerras, de modo que nunca houve um assassinato entre hobbits no Condado até a funesta chegada de Saruman após a Guerra do Anel. O único conflito armado anterior no Condado foi a “Batalha dos Campos Verdes”, em 2747, quando Brandobras Tûk expulsou um bando de orcs na Quarta Sul (também conhecido como “Urratouro”, mencionado no filme “O Hobbit”, era parente de Bilbo).

Contudo, nem mesmo sob a enganosa impressão de que o mundo inteiro era tão tranquilo quanto o Condado, os hobbits eram um povo fraco. Pelo contrário, a paz os fez de tal modo fortes, que se fossem obrigados pelas circunstâncias, se tornavam destemidos, ferozes até, e eram capaz de suportar grandes privações. Se necessário, facilmente manejavam armas, e eram exímios arqueiros, assim como em tudo que exigisse boa pontaria, graças aos seus olhos acurados.

À direita: "um povo discreto, agora pouco numeroso"...

Até os dias da partida de Bilbo, os hobbits viveram com paz e satisfação dentro dos limites de suas terras. Mas ignoravam que isso só era possível graças aos “Guardiões”, homens remanescentes do decaído reino de Arnor, quem impediam a aproximação de qualquer mal do Condado. O próprio Tolkien observa sobre este aspecto dos hobbits: “um povo discreto, agora pouco numeroso, amantes da paz e tranquilidade assim como da vida no campo. Nunca gostaram de máquinas mais complexas do um moinho ou um tear manual.”

Além de tudo, o que os torna uma raça especial, dentre outras coisas, é sua habilidade de desaparecer rápida e silenciosamente, principalmente para evitar os homens, o que, segundo Tolkien, atualmente tem sido habitual, devido ao medo. Tal capacidade é mais associada a uma arte do que a uma magia, e poucos seres conseguem fazê-la tão bem quanto eles.

Assim, graças a essa maneira singular de ser, os hobbits passaram a maior parte de sua existência na Terra Média sem serem de fato percebidos. Porém, após Bilbo Bolseiro ter encontrado o Anel no ano de 2942, o Condado não passou mais despercebido pelos outros povos da Terra Média, surpreendendo mesmo os mais sábios dos sábios da época com seus feitos contra Sauron.

Juntamente ao seu tio Bilbo, Frodo Bolseiro, ao levar para destruição o Um Anel de Sauron, garantiu que os hobbits jamais seriam esquecidos, pondo fim à Terceira Era da Terra Média e do império de terror de Sauron.

Linguagem

Não há registros da língua primitiva dos hobbits, anterior à sua chegada a Eriador, ou mesmo a Bri, onde já teriam adotado a língua dos homens que viviam no local. Da mesma forma, em Eriador, começaram a utilizar a Língua Geral, ou Westron, e adotar a forma escrita dos dúnedain, o povo de Arnor .

Contudo, vestígios se sua língua original podem ser verificados em algumas palavras e nomes de locais, que guardam semelhanças com outras encontradas no reino de Rohan e na cidade de Valle, além de nomes próprios.



sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Afinal, quem são os anões?





 Dáin Pé-de-Ferro

Os anões são o povo em destaque em “O Hobbit”. Mas pouco se sabe a respeito deles, salvo que são habilidosos na mineração e no trabalho com metais, teimosos, e que são de baixa estatura, dentre outras características obtidas num primeiro olhar.

Contudo, os anões são uma raça muito mais complexa do que comumente se pensa, tanto em sua origem e costumes, quanto em seus feitos na Terra Média.

J.R.R. Tolkien, no “Apêndice F” de “O Senhor dos Anéis” (WMF Martins Fontes) comenta a respeito: “Os anões são uma raça à parte. O Silmarillion relata sua estranha origem e a razão pela qual são semelhantes aos elfos e aos homens, e, ao mesmo tempo, diferentes deles (...).”

Com efeito, em “O Silmarillion” conta-se que Eru Ilúvatar, o deus único da mitologia de Tolkien, após ter criado Arda, a Terra, tinha em mente povoá-la com seres inteligentes e falantes. Tendo tomado conhecimento dessa intenção, o Vala (um dos poderes angelicais criados por Eru) Aulë, o Ferreiro, resolveu adiantar-se ao seu Senhor, criando seres semelhantes ao que teve conhecimento, mas à sua maneira, fazendo-os fortes, resistentes e obstinados para resistir às investidas de Morgoth (a princípio Melkor, também um Vala, que se rebelou contra Eru e se tornou “O Senhor do Escuro”, a quem Sauron servia e depois deu sequência aos seus intentos malignos), quem há muito tinha deixado as Terras Imortais para atormentar a Terra Média.

Quando Eru descobriu o que Aulë fizera, repreendeu-o por ter se adiantado na tarefa que cabia somente a Ele. Em resposta, Aulë pegou seu grande martelo para destruir os seres que criou, ao que estes, assustados, encolheram-se de medo. Ao ver isso, Eru ordenou que o Vala não o fizesse, pois já era tarde demais, as criaturas já estavam vivas e tinham sensibilidade. Então ordenou a Aulë que as fizesse dormir nas profundezas da terra, até o dia em que lhe fosse concedida a licença para deixá-los caminhar sobre o mundo.

Esta é, pois, a origem dos anões, ou naugrim, como foram chamados desde o princípio, e chamavam a si próprios de khazad. Após elfos e homens colonizarem a terra pela vontade Eru, os anões despertaram de seu longo sono, e se juntaram a eles em seus feitos e lutas contra Morgoth e depois Sauron. 

Logo, os anões não são homens de baixa estatura, ou que nos dias atuais possuem uma mutação genética chamada de Nanismo, nem nascem das pedras ou de um gigante morto, como sugere muitas crenças absurdas dos homens, são uma raça à parte, como os elfos e os hobbits. 

O fato é que os anões eram uma raça que se multiplicava devagar, pois não haviam muitas mulheres anãs, as quais não chegavam a um terço de seu povo, e deste número, menos ainda de um terço se casava e proliferava. As crenças infundadas tiveram mais respaldo ainda no fato de que as anãs só deixavam seus lares em extrema necessidade, e eram tão semelhantes aos anões na voz, na aparência e nas roupas que poucos poderiam distinguí-los uns dos outros.

Mesmo após seu longo sono nas profundezas, os anões despertaram conservando as características com as quais Aulë os fez. O próprio Tolkien faz a descrição da raça no “Apêndice F” de “O Senhor dos Anéis”: “São em geral uma raça resistente e obstinada, reservada, laboriosa, que conserva a lembrança de injúrias (e de benefícios), amante da pedra, das gemas, das coisas que adquirem forma nas mãos dos artesãos mais do que daquelas que vivem por si mesmas. Mas não são maus por natureza, e poucos serviram ao Inimigo de livre vontade, não importa o que possam ter alegado os relatos dos homens. Pois os homens de outrora cobiçavam suas riquezas e as obras de suas mãos, e houve inimizade entre as raças.”

Tal relato explica ainda porque os anões não são uma raça tão “popular”, e porque muitas vezes serem tratados como seres meramente mal-humorados, mesquinhos ou gananciosos. Da mesma forma que os dragões desceram do norte para pilharem seus tesouros (Ver post “Estrelando Smaug, o dragão, e sua espécie”), homens e elfos em algum momento também procuraram obter indevidamente vantagem sobre suas habilidades ou tesouros sempre conseguidos arduamente.

De longe o traço da raça que mais se sobressai é sua habilidade com trabalhos manuais, especialmente envolvendo metais e pedras, preciosos ou não. São obras suas, por exemplo, os portões de Moria e seus majestosos salões, a cota de Mithril que salvou a vida de Frodo, e os novos portões de Minas Tirith, após a Guerra do Anel, dentre inúmeras outras obras.
Nenhuma arma na Terra Média, com excessão de algumas espadas lendárias élficas (como Orcrist e Glamdring, por exemplo) poderia ser comparada aos machados e outras armas dos anões, fato, aliás, que pendeu a favor de sua vitória em Azanulbizar, sua guerra contra os orcs, os quais tinham força superior em número.

Ao que parece, os anões não tinham o hábito de dar nomes próprios às suas armas, mas nem por isso elas deixaram de fazer diferença nos grandes feitos da Terra Média. Um exemplo é a trágica “Batalha das Lágrimas Incontáveis” (ou em élfico Nirnaeth Arnoediad), onde o terrível dragão Glaurung quase teve sua resistente couraça rompida pelos machados dos anões do reino de Belegost, e finalmente, quase foi morto pela faca do rei anão Azaghâl.
Nessa mesma ocasião, ficou evidente outra característica exclusiva dos anões: sua resistência ao fogo e ao calor, pela qual conseguiram resistir às chamas de Glaurung e cercá-lo, segundo é narrado em “O Silmarillion”.

Finalmente, outro traço marcante dos anões é sua longevidade: facilmente ultrapassam dois séculos de idade com vigor. O rei Dáin Pé-de-Ferro (quem aparecerá nas próximas sequências do filme), quando sucumbiu lutando impetuosamente com seu machado em Valle, durante a Guerra do Anel, tinha 252 anos. O próprio Thorin Escudo-de-Carvalho tinha 195 anos quando morreu na Batalha dos Cinco Exércitos.

A linguagem dos anões

Em geral, os anões usavam a língua comum, o Westron, ou a língua dos homens junto dos quais porventura vivessem, uma vez que, após a destruição de seus reinos por dragões ou outras criaturas maléficas, se tornaram um povo errante.

Por isso, seus nomes, como Gimli, Óin, Glóin, etc., eram originários de línguas humanas, enquanto seus nomes verdadeiros, em sua própria língua, jamais revelavam a ninguém de outra raça.

A sua língua de origem, por sua vez, foi aprendida por poucos além de sua raça. Como escrita, utilizavam os Cirth, ou o Alfabeto de Daeron, um elfo menestrel e mestre da tradição do rei Thingol de Doriath, um reino élfico da Primeira Era, quem elaborou uma forma mais rica e ordenada. Eram letras semelhantes às runas nórdicas atuais, e passaram dos elfos para os anões na época da estreita amizade entre as duas raças, quando os reinos Eregion dos elfos e Moria dos anões eram vizinhos na Segunda Era. Mas ocorria também de muitos anões conhecerem os Tengwar de Fëanor, a escrita élfica, embora os Cirth sempre fossem utilizados para registrar sua língua.

Os anões de Erebor, reino de Thorin Escudo-de-Carvalho, introduziram algumas alterações nos Cirth, que passaram a ser conhecidas como “Modo de Erebor”, do qual um exemplo pode ser encontrado no Livro de Mazarbul (o diário que Balin, um dos 12 anões em “O Hobbit”, manteve juntamente com seus seguidores enquanto tentavam recolonizar Moria após a retomada de Erebor, achado tempos depois pela Sociedade do Anel na câmara onde o próprio Balin estava sepultado).

Em outro post anterior, “Como Thorin e os anões salvaram a Terra Média”, discorro sobre o papel imprescindível dos anões na última guerra contra Sauron, e como eles resistiram à sua tentativa de submetê-los e transformá-los em sombra através dos Anéis de Poder.
Enfim, se há alguma coisa que cabe dizer sobre os anões, é que são um povo injustiçado, apesar de seu modo particular de ser, foram inimigos incomparáveis do Inimigo, em sua baixa estatura, foram gigantes contra o mal sem medida que ameaçou devorar todos os povos livres da Terra Média.

Nem mesmo quando Sauron tentou aliciá-los, prometendo-lhes os 3 que restavam dos 7 Anéis de Poder que foram dados aos anões outrora, o que sabidamente era sinônimo de tesouros e poder; assim como a devolução do reino de Moria, a “Maravilha do Mundo do Norte” nunca esquecido pelo coração dos anões, desejando em troca que dissessem onde estava Bilbo e o Um Anel, uma vez que conviveram por um tempo (como narrado em “O Hobbit”) eles não se deixaram levar pela malícia enganosa de Sauron, e por duas vezes Dáin Pé-de-Ferro mandou o mensageiro de Sauron sem resposta à sua “oferta”, conforme foi relatado por Glóin, pai de Gimli, no Conselho de Elrond (“A Sociedade do Anel).

sábado, 10 de agosto de 2013

Estrelando Smaug, o Dragão e sua espécie

Smaug incinerando Valle


“A noção de que carros possam ser mais “vivos” do que dragões ou centauros é curiosa; que sejam mais “reais” do que cavalos é pateticamente absurdo.”  
J.R.R. Tolkien

Ninguém estava lá para ver, ou talvez em eras posteriores alguém ainda cantasse sobre a Batalha do Pico (...). Mas o que diriam nas canções? Aqueles que olharam para cima de um ponto distante pensaram que a montanha estava coberta pela tempestade. Ouviram trovões, e relâmpagos, diziam eles, atingiam Celebdil e ricocheteavam em línguas de fogo. Isso não é o bastante?
 Gandalf, falando sobre sua luta contra o Balrog em Moria.


Em breve, na sequência da trilogia filmada de O Hobbit, “A desolação de Smaug”, o público será apresentado ao grande vilão da jornada de Bilbo e os anões: O dragão Smaug.

Smaug é retratado como um dragão vermelho (ele é as vezes é citado como “Smaug, o Dourado” devido, certamente, ao brilho do ouro sobre o qual se deita refletido em sua couraça) com asas, de quatro patas, recoberto de escamas e pedras que tornam seu corpo impenetrável. Na obra, uma frase o resume bem: “um dragão especialmente ganancioso, forte e mau”.

Dragões são criaturas do imaginário humano de quase todos os povos antigos, constituindo uma de suas manifestações culturais mais remotas.

No caso da mitologia de Tolkien, os dragões são tributários ao seu conhecimento sobre mitologia nórdica/ germânica, e seus respectivos dragões e características.

Na lenda germânica de Siegfried e Fafnir, uma das fontes que certamente inspiraram a criação dos dragões da literatura de Tolkien, o anão Fafnir é transformado em um dragão pela sua ganância, lutando contra o herói Siegfried.

Outra fonte de inspiração para o mestre de Oxford foi o período medieval, cujas tradições e narrativas ele igualmente conhecia bem como as do Ciclo Arturiano ou Rei Arthur. O próprio pai de Arthur, o rei Uther, era conhecido como Pendragon, ou “Pequeno Dragão”.

Ainda durante a Idade Média na Europa, houve inúmeros relatos sobre dragões, inclusive de batalhas entre eles e humanos, os quais ganharam também descrições detalhadas em vários bestiários da Igreja Católica, tidos então como registros inquestionáveis de sua existência.

A imagem do dragão foi tão marcante no período medieval, que vários reis o adotaram como símbolo heráldico (brasão que simbolizava a família do nobre).

Na literatura de J.R.R. Tolkien, os principais dragões foram Ancalagon, o Grande, o qual aterrorizou especialmente os elfos durante a Primeira Era, sendo derrotado por Eärendil, um elfo que navegava os céus com um barco voador.
Também durante a Primeira Era, existiu Glaurung, um dragão sem asas quem, juntamente com sua prole, afligiu tanto elfos quando anões e homens, especialmente os últimos. Na “Batalha das Lágrimas Incontáveis” (Nirnaeth Arnoediad) quase foi morto pelas armas dos valentes anões de Belegost, mas encontrou seu fim nas mãos de Turin, filho de Húrin, quem enterrou-lhe até o punho sua espada negra Gurthang.

 Túrin mata Glaurung
Durante a Segunda Era, período com poucos registros, praticamente não há grandes relatos envolvendo dragões. Contudo, durante a Terceira Era, eles ressurgiram com força total.
Por volta do ano de 2570, eles reapareceram no extremo norte da Terra Média e escolheram os anões como suas vítimas prediletas para pilharem seus tesouros, uma vez que, conforme explica Tolkien em O Hobbit, embora não possuíssem senso de valor, dragões eram criaturas gananciosas que apreciavam o ouro, prata e pedras preciosas, sendo capazes de dar falta da menor peça extraviada de sua pilhagem.
Em 2589, Dáin I, tataravô de Dáin II, ou Dáin Pé de Ferro, senhor dos anões das Colinas de Ferro (quem aparecerá nas sequências de O Hobbit no cinema) foi morto por um “dragão-frio”, nas Ered Mithrin (Montanhas Cinzentas).
A propósito, conta-se que, dos 7 Anéis de Poder dados por Sauron aos reis anões, 4 foram destruídos pelo fogo de dragões (ver post anterior).
Pouco lembrado, há também Scatha, o grande dragão de Ered Mithrin o qual também matinha uma grande e rica pilhagem, o qual foi morto por Fram, um dos senhores ancestrais do povo de Rohan (A Terra dos Cavaleiros).
Finalmente, em 2770, Smaug ataca Erebor, o reino de Thrór, avô de Thorin, dizimando seu povo e forçando os sobreviventes ao exílio e à miséria.
Sem dúvida, ele foi o pior de todos os dragões da Terceira Era. Tamanha era sua ameaça que Gandalf, preocupado com o possível uso de seu terrível poder por Sauron, o qual já se manifestava à procura de seu Um Anel para dominar a Terra Média, procurou Thorin, quem queria se vingar do dragão, para juntamente com o hobbit Bilbo organizar uma expedição para neutralizá-lo em Erebor, tema maior da narrativa de “O hobbit”.
Graças aos feitos indiretos de Bilbo, Gandalf e os anões, Smaug é derrotado, fato que teve grande repercussão no futuro, decidindo os rumos da Guerra do Anel, segundo o próprio Gandalf conta posteriormente a Frodo e Gimli (Ver post “Como thorin e os anões salvaram a Terra Média).
 
Sobre as montarias aladas dos Nazgûl, os Espectros do Anel: não se tratam de dragões, e sim de outra criatura, conforme descreve o próprio Tolkien, em “O Retorno do Rei” (O Senhor dos Anéis): “E, para a supresa de todos, era uma criatura alada: se era um pássaro, então era maior que todos os outros pássaros, e era nu, sem penas ou plumas, e suas enormes asas eram como membranas de couro entre dedos de garras; e seu corpo fedia. Talvez fosse uma criatura de um mundo mais antigo, cuja espécie, sobrevivendo em montanhas esquecidas e frias sob a lua, perdurara além de seus dias, e em ninhos hediondos criara esta última criatura extemporânea, voltada para o mal. E o Senhor do Escuro a acolhera, alimentando-a com carnes nojentas, ate que crescesse além da medida de todos os seres voadores; depois deu-a de presente a seu servidor, para que fosse sua montaria.” Tal descrição leva à pergunta: teriam sido tais criaturas remanescentes ou parentes dos dinossauros chamados “Pterodáctilos”?

Dragões existiram de verdade?

Na História humana tida como “real”, os registros mais antigos da fera datam de 40.000 anos a.C., através de pinturas rupestres feitas por aborígenes australianos. A origem da palavra “dragão” vem do grego “drakôn”, cujo significado seria algo como “grande serpente”.

Da Ásia à Europa, existem várias descrições de dragões, passando por diversos povos e culturas, desde simples cobras gigantes a seres sobrenaturais dotados de poder. Dentre os indígenas brasileiros, por exemplo, existe o Boitatá, uma cobra gigantesca que cospe fogo e persegue quem incendeia florestas, enquanto entre os vikings havia a terrível serpente marinha Jorgmungand, que aterrorizava os guerreiros nórdicos.

Curiosamente, essa onipresença cultural do dragão independe de contato entre culturas, isto é, trata-se de um mito original de cada povo.

Sobre a existência dos dragões no mundo real, existem duas teorias.

Uma delas diz que os dragões surgiram da simples observação do ser humano primitivo de restos fósseis de dinossauros ou de ossadas de outros animais gigantes, concebendo, assim, em suas mentes criaturas gigantescas e ameaçadoras, as quais não raro se tornaram protagonistas de lendas como adversários supremos de seus heróis. Sob esta perspectiva, dragões não passariam de produto da imaginação humana.

Já a outra teoria baseia-se em evidências e registros históricos, como os apontados acima (pinturas rupestres, bestiários, etc.), e observação científica da natureza, método utilizado inclusive por um documentário do canal Discovery Channel de 2006: “Dragões: Uma fantasia que se torna realidade”, explicando como os dragões teriam existido de fato.

Assim como os povos primitivos poderiam ter imaginado (ou deduzido?) a existência de criaturas terríveis através da observação de esqueletos fósseis, estes por si só respondem em grande parte a pergunta. Ossadas de répteis gigantes voadores, chamados vulgarmente de Pterodáctilos, e reconhecidos no meio científico, são comuns.

Mas há a questão do fogo: como uma criatura viva poderia expelir chamas pela boca sem se queimar?

O “Besouro Bombardeiro” é um animal vivo que faz isso, expelindo um líquido flamejante produzido por uma reação enzimática. Segundo o documentário, num dragão, tal capacidade viria de um metabolismo singular, cujas bactérias ao digerir o alimento no organismo liberaria Hidrogênio, gás mais leve do que o ar e inflamável, ao invés do Metano e outros gases como acontece nos seres humanos e outros animais. Isso explicaria, ainda, como uma criatura tão grande poderia se manter no ar, auxiliados por de bolsas infladas com Hidrogênio e por ossos de arquitetura semelhante à dos pássaros.

Outras teorias sustentam que as chamas viriam de uma substância que uma vez em contato com o ar, entraria em combustão, como um dos isótopos do elemento químico Fósforo (P).

Se os fósseis apontam de fato para a existência de dragões, e sendo estes pré-históricos, como então os dragões podem ter sobrevivido à grande extinção dos dinossauros?

Pode ser que os “fósseis de dragões” contemplados pelos nossos ancestrais fossem de tempos posteriores à grande extinção (na Pré-história há milhões de anos entre o “início” da História propriamente dita e a suposta data de extinção dos dinossauros), a qual em si mesma é uma hipótese: pode ser que nem todos os dinos foram extintos, neste caso, os dragões teriam sido uma dessas espécies que sobreviveram no mundo (a capacidade de voar teria sido um fator determinante) até serem extintos por um outro motivo.

No meio científico, é indiscutível que a causa da extinção do Mamute, o ancestral do elefante moderno (e lembrado na literatura de Tolkien através dos gigantescos “olifantes” ou mûmakil do povo haradrim, talvez um marco cronológico interessante para se estimar em que ponto da linha cronológica “real” os contos de Tolkien poderiam ser situados) foi devida à sua caça contumaz por seres humanos. Da mesma forma, especialmente pela ameaça que representavam, não seria exagero afirmar que os dragões foram extintos pelo homem até a Idade Média, período rico em relatos de perseguição das feras, e após a qual cessaram de uma vez.

Finalmente, por que um dragão como Smaug pilharia tesouros? Talvez não por ganância propriamente dita, mas pelo fato de tesouros como os dos anões serem mantidos em galerias secretas ou cavernas nas montanhas, lugares preferidos pela criatura para estabelecer seus covis, como é de costume dos répteis; ou ainda pela fascinação com o brilho do ouro e pedras preciosas, comportamento típico de várias espécies, como os avestruzes, por exemplo.

Daí se eles podiam conversar com outros seres falantes como um hobbit invisível, então fica a critério da imaginação pura simples, pois, biologicamente, contrariando o relatado em muitas lendas, isso não teria sido possível (a menos que, além de resistente ao fogo, suas bocas tivessem de um aparelho fonador semelhante ao do ser humano, que aliás, é o único animal conhecido até então com essa capacidade, mas nunca saberemos se isso foi ou não verdade).

Esperemos o Smaug na tela dos cinemas aparecer para “ver mais de perto” sua extinta (?) espécie.