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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

O Hobbit: A Desolação de Tolkien

O encontro com Beorn (livro)


A sequência da adaptação de “O Hobbit” para o cinema continuou cumprindo com maestria seu papel de mostrar a dura jornada dos anões em retorno ao seu lar, Erebor, e assim, a importância de se lutar por um ideal.

Outro objetivo, proposital ou não, que o filme também alcançou inquestionavelmente foi o de despertar no leitor a obrigação de ler a obra original de J.R.R. Tolkien, se ele quiser conhecer de fato a verdadeira história de Bilbo e os anões.

No primeiro filme da trilogia, “Uma jornada inesperada”, eu me posicionei contra a crítica que atacou sem piedade a adaptação. Mas somente agora entendo porque Christopher Tolkien, filho do autor, repudiou com extrema indignação as adaptações de Peter Jackson e Cia., declarando a respeito ao jornal francês “Le Monde”: “As vísceras da obra do meu pai foram arrancadas”.

Mas “O Hobbit” não é a única obra que sofre as dores do parto quando ganha vida no cinema pós-moderno. As possibilidades infinitas trazidas pela computação gráfica e outras tecnologias parecem ter embotado a inteligência dos roteiristas e diretores, os quais habitualmente têm descuidado a atenção da essência das obras. No afã de usar seus “brinquedos”, acabam produzindo conteúdos que não correspondem à realidade do texto original, cometendo assim verdadeiras arbitrariedades que não deixam de indignar fãs e o público no geral.

Tomemos como exemplo o desenho “O Hobbit”, de 1977 (disponível no Youtube). Praticamente não há desvios do roteiro em relação à narrativa de Tolkien. Naturalmente, existem detalhes que poderiam ser melhorados, mas o que conta mais pontos é a fidelidade ao roteiro, o que faz a animação com todas suas limitações técnicas bater de longe os dois filmes de Peter Jackson.

Por outro lado, se algo pode ser dito em favor de “A desolação de Smaug”, é que, mesmo cheio de acréscimos desnecessários e distorções, é um trabalho que não deixa de contribuir para que o legado de Tolkien continue sempre lembrado no mundo do entretenimento. Aliás, acredito que se ainda estivesse vivo, J.R.R.Tolkien, ao invés de enfurecer-se com a deformação do seu texto transmutado para o cinema, veria da mesma forma este lado positivo.

Não listarei todas as disparidades do filme em relação à obra original (seria mais sucinto falar dos acertos), então, seguem as que considero mais importantes (ou piores, se preferirem):

·         O fatídico e casual encontro de Gandalf e Thorin em Bri: tal encontro está registrado na literatura de Tolkien, não exatamente em “O Hobbit”. Gandalf não incita exatamente Thorin a reunir as sete famílias de anões para retomar Erebor, na verdade, os dois tem uma preocupação em comum (Smaug) e definem um plano que desemboca nos acontecimentos narrados em “O Hobbit”.

·         O encontro com Beorn: Se alguém por acaso se virou para jogar o saco de pipoca no lixo certamente não viu o homem-urso. Um dos personagens principais da obra recebeu apenas poucos minutos de aparição, desperdiçados com uma versão inverídica – Beorn nunca foi prisioneiro de Azog (ele já estava morto à época de “O Hobbit”), muito menos seu povo foi exterminado pelos orcs de Dol Gudur. Tomara que no próximo filme Beorn receba o papel que lhe é de direito.

·         Sauron finalmente é revelado por trás da figura do “Necromante”, uma estratégia de roteiro para tornar mais explícito o vínculo de “O Hobbit” com “O Senhor dos Anéis”, assim como a aparição de Legolas, quem não aparece em “O Hobbit”, mas de fato já vivia à época (é um elfo imortal) e morava na Floresta das Trevas, sendo filho do Rei Élfico Thranduil (o qual nunca foi mutilado lutando contra dragões do Norte, pelo menos segundo os relatos de Tolkien. Os únicos elfos que lutaram contra dragões eram da Primeira Era, ver “O Silmarillion”).

·         A breve perda do Anel por Bilbo na Floresta das Trevas nunca aconteceu, assim como seu aprisionamento pelas aranhas gigantes.

·         O affair entre a elfa Tauriel (inexistente na obra de Tolkien) e o anão Kíli: Tolkien relatou alguns casos de amor e união entre raças diferentes, jamais um anão e uma elfa, menos ainda em “O Hobbit”. Vale dizer: O Hobbit é um livro a princípio infantil.

·         Bard: outro personagem mal explorado. Enfatizaram sua boa pontaria, mas ele não é um barqueiro (além da rima, barqueiro e arqueiro não têm nada a ver entre si), e se esqueceram de lhe dar uma caracterização mais profética e melancólica, típicos do personagem. Bard não se opõe ao Senhor da Cidade do Lago como é mostrado, num ambiente de intriga política (como não podia deixar de ser, sempre irrigado com álcool – o “brandy”, e um puxa-saco). O arqueiro é aclamado como líder pelo seu povo em circunstâncias naturais. Provavelmente, os roteiristas quiseram aproveitar para fazer uma crítica aos políticos da vida real.

·         Os anões não entram clandestinos na Cidade do Lago, pelo contrário: quando se declaram como os anões de Erebor que retornam, são aclamados com todas as honrarias.
·         Smaug não se dá conta do Anel que Bilbo carrega, e muito menos este se revela ao dragão em momento algum. A menção do anel pelo dragão foi certamente um artifício para dar aos espectadores a dimensão dos receios de Gandalf, caso ambas as forças (o dragão e o Sauron) se aliassem.

Finalmente, Tolkien detestava manifestamente alegorias, ou seja, dizer uma coisa através de simbolismos, contudo, é difícil não associar o preguiçoso e arrogante Smaug enterrado no imenso tesouro de Erebor ao comportamento daqueles poucos que vivem em verdadeiros e opulentos “salões” com “leitos de ouro”, enquanto a maioria padece na miséria, cujos destinos sofrem drasticamente a interferência de sua ganância deliberada (como o povo de Valle e posteriormente, da Cidade do Lago, por exemplo).
Contra tal “doença”, como é dito no filme, somente a persistência à prova de todos os obstáculos dos anões e a simplicidade de um hobbit quem se apodera por acaso do maior e pior de todos os tesouros, mas consegue mantê-lo seguro e em segredo, usando-o apenas para ajudar seus amigos.

Isso parece bastar para redimir a “desolação” que segunda parte da filmagem de “O Hobbit” fez na obra. Lembrem-se: não diga que conhece a história de “O Hobbit” sem antes ler o livro!

 


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

CONTAGEM REGRESSIVA!

O Hobbit - A Desolação de Smaug

Dia 13/12 nos cinemas

Bilbo contra as aranhas gigantes na Floresta das Trevas