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domingo, 30 de março de 2014

J.R.R. Tolkien: Uma fé que moveu o mundo

“Bilbo estava designado a encontrar o anel, e não por quem o fez.”
Gandalf a Frodo, em “O Senhor dos Anéis”.

Em tempos de acontecimentos frequentemente obscuros e intimidadores, com o crescimento de falsas religiões e falsos profetas, parece não haver nada que dê importância a histórias como “O Hobbit” e “O Senhor dos Anéis” no que diz respeito a esses assuntos.

A verdade é que J.R.R. Tolkien escreveu suas obras primas não apenas inspirado pelo seu conhecimento artístico e acadêmico, mas por uma profunda fé em Deus na condição de adepto do Catolicismo.

Antes da perda prematura dos pais, Tolkien recebeu educação Católica Apostólica Romana, que teve continuidade quando ficou sob a tutela do padre Francis Morgan.

Quando voltou sua vida para o estudo de línguas, tinha o Latim, a língua oficial do Vaticano, como uma de suas línguas prediletas, a qual inclusive serviu-lhe como inspiração na criação de suas línguas élficas (o Sindarin). Em 1966, o mestre de Oxford chegou a traduzir o livro do profeta Jonas diretamente do original em Aramaico para o Inglês.

Após seu casamento, assiduamente assistia às missas de Domingo. Seu filho mais velho, John Tolkien, se tornaria padre da Santa Madre Igreja mais tarde.
Certamente, a maior contribuição do autor para a Igreja vem de sua ampla Literatura, onde exemplos de esperança, fé, caridade, compaixão, partilha, e mesmo sacrifício pelo bem dos semelhantes, dentre outras virtudes cristãs, são igualmente vastos e bem evidentes. Embora não quisesse transmitir outras mensagens através de sua obra a não ser aquilo que pudesse ser imediatamente lido, Tolkien reconhece a influência cristã na sua obra, em uma carta a um leitor (A Carta 142 – livro “Cartas de J.R.R. Tolkien”):


“O Senhor dos Anéis obviamente é uma obra fundamentalmente religiosa e católica; inconscientemente no início, mas conscientemente na revisão. E por isso que não introduzi, ou suprimi, praticamente todas as referências a qualquer coisa como “religião”, a cultos ou práticas, no mundo imaginário. Pois o elemento religioso é absorvido na história e no simbolismo.”

Tempos depois, o fato viria a ser corroborado pelo então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, Arcebispo de Buenos Aires, Argentina, nomeado Papa em 2013, adotando o nome “Francisco” quem através do sermão “Mensagem às comunidades educativas” em 23 de abril de 2008, recomendou a leitura das obras de Tolkien, dizendo:

“Tolkien, na literatura contemporânea, retoma em Bilbo e em Frodo a imagem do homem que é chamado a caminhar, e seus heróis conhecem e encenam, caminhando, o drama que se desdobra entre o bem e o mal.” (tradução do original em Espanhol pelo autor).

Precedendo as palavras do Santo Padre, em 26 de fevereiro de 2003, o jornal do Vaticano L’Osservatore Romano publicou um artigo onde recomendou a leitura das obras do autor exaltando seu conteúdo cristão, colocando-as como “uma espécie de teologia”.

Pode-se entender o valor dessas palavras quando se tem o conhecimento de que a saga “Harry Potter”, com larga aceitação popular, não recebeu as mesmas bênçãos do Vaticano, então sob Pontificado de Bento XVI (Joseph Ratzingher), quem desaprovou as aventuras do bruxo inglês.

No vídeo a seguir, o Padre Paulo Ricardo de Azevedo Jr., diletante das obras do autor inglês, traz mais detalhes sobre a relação entre Catolicismo e a literatura de J.R.R. Tolkien. Vale a pena ver.



E vale lembrar ainda que “O Hobbit”, cujos filmes foram apresentados há pouco ao público, história que segue a mesma tônica cristã, funciona como peça introdutória ao “Senhor dos Anéis”.

segunda-feira, 3 de março de 2014

A Terra-Média realmente existiu?

Tuor e o elfo Voronwë na costa de Beleriand (O Silmarillion)

A “Terra-Média” realmente existiu?

E eu digo que há mais verdade em algumas delas do que você possa imaginar. Então, quem inventou as histórias? Veja os dragões, por exemplo...
O hobbit Samwise Gamgi, sobre contos infantis, em “O Senhor dos Anéis”.
Pois não seremos nós, mas os que vierem depois, que farão as lendas de nossa época.
Aragorn, idem.

Marcus Pedrosa

Diante do fascínio e da riqueza de detalhes do mundo fantástico da literatura de J.R.R. Tolkien (1892 – 1973), sempre fica a pergunta: elfos, orcs, anões, seus feitos e seus reinos, a Terra Média, enfim, realmente existiram?
A meticulosidade com a qual Tolkien criou sua narrativa em “O Silmarillion”, “O Senhor dos Anéis”, e “O Hobbit” por si mesma já induz o leitor, através da descrição minuciosa de seus povos, sua origem, seus hábitos, sua língua e suas tradições, a entender que tais relatos mais lembram livros de história do que simples ficção literária.
Tamanha densidade e coerência de informações das figuras da mitologia de Tolkien têm uma razão de ser: desde criança, quando vivia no meio rural do interior da Inglaterra, Tolkien teve contato com os costumes e tradições antigas de seu povo, as quais, juntamente com seu conhecimento sobre línguas como o Grego e o Finlandês, dentre outras, e sobre seu processo de transformação ao longo do tempo, adquirido durante seus estudos na Universidade de Oxford, deram-lhe as principais bases para o que seria seu objetivo enquanto escritor, qual seja, construir uma mitologia própria do povo inglês.
Para tanto, Tolkien serviu-se ainda de outras fontes mitológicas, como o poema anglossaxão “Beowulf”, o finlandês “Kalevala”, os “Eddas” nórdicos, as Lendas Arturianas, dentre outras pertencentes a povos que colonizaram a Inglaterra ao longo de sua história, cujos vestígios podem ser reconhecidos mais ou menos claramente na literatura do escritor.
Convém observar que todos estes textos, pelo menos em sua forma anterior não-escrita, são milenares. Consequentemente, questionar sobre a possibilidade de os contos de Tolkien serem ou não reais, é recuar milhares, senão dezenas/centenas de milhares ou mesmo milhões de anos antes do primeiro registro escrito, ou seja, muito além dos 10 mil anos de História convencionalmente aceitos e conhecidos.
Sobre a correlação entre mitos e verdade, o próprio Tolkien observou, em uma de suas cartas (“Cartas de J.R.R. Tolkien”):
“Afinal, creio que lendas e mitos são compostos mormente da ‘verdade’, e de fato apresentam aspectos desta que só podem ser recebidos neste modo; e muito tempo atrás certas verdades e certos modos desta espécie foram descobertos e devem ressurgir sempre.”

A esse respeito, ainda, convém citar o cientista alemão Fritz Kahn, em seu “Livro da Natureza”: Raramente, lendas são invenções; na maior parte das vezes, são verdades idealizadas”.
Em geral, lendas e mitos constituem, inicialmente, parte da tradição oral de um povo, vertidos, posteriormente e algumas vezes, para a forma escrita. No entanto, contraditória e curiosamente, é pela oralidade que perduram, passados de indivíduo a indivíduo através dos séculos, como ocorreu com a “Bíblia”, a “Kalevala”, dentre outros textos tradicionais ou folclóricos.
Por isso, Tolkien ancorou-se na linguagem como ponto de partida de sua narrativa. Ele não apenas queria dar personagens e mundos aos idiomas élficos que ele inicialmente criou como linguista, ele também tinha noção do alcance da oralidade presente nos textos em que se inspirou para compor assim seu próprio texto com um forte lastro de verdade no mundo real.
Com efeito, seu trabalho não pode ser considerado um mundo alienígena ou meramente imaginário. O próprio Tolkien revela o caráter pretérito de sua narrativa em relação ao mundo atual no “Apêndice D” de “O Senhor dos Anéis”, quando explica as particularidades do calendário utilizado no “Condado”: “O ano tinha sem dúvida a mesma duração, já que, por muitos longínquos que sejam aqueles tempos pela contagem dos anos e das vidas dos homens, não eram muito remotos segundo a memória da Terra”.

 Os Argonath O Senhor dos Anéis)


O autor também expressa sua convicção sobre o teor real de sua narrativa no “Apêndice F” da mesma obra, quando comenta as particularidades de suas línguas: “Mas já não falamos de um anão com a mesma frequência com que falamos de um homem, ou mesmo de um ganso, e a memória não foi nítida o suficiente entre os homens para que se preservasse um plural especial para uma raça que foi hoje confinada aos contos folclóricos.”
Admitindo-se o pressuposto de que Tolkien refinou tradições antigas e línguas para reconstituir um mundo situado além da História conhecida, quando exatamente teriam se passado esses fatos?
O próprio autor escreve, no “Apêndice B” da obra já citada, a respeito da “Quarta Era” de sua cronologia: “(...) a Quarta Era teve início com a partida de Mestre Elrond (que era um elfo, junto do qual partiram da Terra Média os demais), quando chegou a época do domínio dos homens e do declínio de todos os outros “povos falantes” (também mencionados como “gente antiga”) na Terra-média.
A Quarta Era, assim, teria sido o período em que a raça humana se consolidou no mundo, e as outras raças que ainda permaneceram na Terra Média foram lentamente se extinguindo. Deste modo, parece existir uma correlação entre a Quarta Era e a “Era Quaternária” ou “Pleistoceno”, conforme a contagem das eras pela ciência da Geologia, o período da Era Cenozoica compreendido entre 1,5 milhões de anos atrás até 10.000 a.C., marcado pelo surgimento do Homo sapiens e do mundo como é atualmente conhecido.
Outra evidência nas obras de Tolkien, mais precisamente “O Senhor dos Anéis” que induz à sincronia da Quarta Era com o Pleistoceno são os “mûmakil”, ou “olifantes”, as enormes criaturas que os homens de “Harad” aliados do maléfico “Sauron” utilizavam como bestas de guerra:
“Grande como uma casa, muito maior que uma casa, pareceu-lhe (a Sam), uma colina móvel revestida de cinza. (...) O Mûmak de Harad era realmente um animal enorme, e como aquele não há mais hoje em dia na Terra Média; seu parente que ainda vive nos últimos tempos é apenas uma lembrança de seu tamanho e majestade. (...) As grandes pernas como árvores, enormes orelhas semelhantes a velas abertas, a longa tromba erguida como uma enorme serpente pronta para atacar, os pequenos olhos vermelhos coléricos. Suas presas levantadas semelhantes a chifres (...).
O mûmak ou olifante seria nada menos do que o mamute, ancestral do elefante que viveu e foi extinto igualmente no Pleistoceno, cujo um exemplar, aliás, foi encontrado recentemente bem preservado em uma das regiões geladas do planeta no extremo norte.
Falando-se em evidências, o que dizer ainda sobre vestígios de outras criaturas, como dragões, trolls, e orcs, ou cidades como “Gondolin”, “Minas Tirith” e “Erebor”?
Quanto aos primeiros, pode-se falar dos diversos fósseis já encontrados e catalogados no meio científico, tanto quanto possível, pois ossos de milhares ou milhões de anos atrás só podem chegar até nossos dias se passarem por um processo de petrificação, o que nem sempre acontece com todos esqueletos de criaturas antigas. Mesmo assim, existem inúmeras amostras catalogadas de esqueletos de imensas criaturas aladas que poderiam ter sido um dragão (em outro artigo, discorro sobre a possibilidade da existência deles); assim como restos humanoides que poderiam ser atribuídos a trolls ou orcs, ao invés de espécies evolutivas ancestrais ligadas à raça humana. Quem pode saber? Como saber de fato que tipo de carne revestia os ossos dessas criaturas em vida, quais eram suas reais feições, e do que eram capazes de fazer?
Da mesma forma que ossos não resistem normalmente à ação do tempo, espadas, machados, elmos e escudos também logo se desfazem uma vez deixados à própria sorte, de modo que jamais alguém poderá dizer com exatidão se as espadas “Andúril” ou “Orcrist” de fato um dia já estiveram nas mãos de guerreiros como “Aragorn” ou “Thorin”, embora guerreiros valorosos com toda certeza empunharam suas armas em dias além da mais remota das batalhas registradas pela História.
No que diz respeito às cidades, deve-se considerar os cataclismos e a limitação do ser humano em seus recursos de exploração arqueológica. Na literatura de Tolkien constantemente fala-se na ocorrência de revoluções na forma do mundo alterando seus contornos, como a submersão dos reinos de “Númenor” (a qual guarda uma certa correlação com a Atlândida “real”) e “Beleriand”, ambos narrados em “O Silmarillion”. Ora, no mundo científico, reconhece-se que o atual mapa mundi nada mais é do que o resultado de vários deslocamentos das massas de terra do planeta ao longo das eras. Também é pacífico que tais eventos alteram não apenas o contorno, mas a superfície da terra, submergindo ou soterrando o que sobre ela existir, tornando-o praticamente irrecuperável, evento este não ignorado pelo próprio Tolkien, conforme se lê no prólogo de “O Senhor dos Anéis”: Aqueles dias, a Terceira Era da Terra Média já se passaram há muito tempo, e o formato de todas as terras foi mudado (...).
Além da hipótese dos cataclismos, cidades que poderiam ter existido a dezenas ou centenas de milhares ou milhões de anos atrás, ainda que tenham resistido a tais forças sísmicas ou simplesmente tendo sido fundadas após as mesmas, não poderiam ser reencontradas facilmente próximas à superfície. A própria ação do clima e do tempo trata de encobrir construções muito antigas, tanto mais profundamente quanto seja sua idade.
É aí onde se encontra a limitação humana nas buscas arqueológicas – atualmente, o ser humano não conta com tecnologia capaz de desenterrar uma cidade que porventura esteja mesmo que algumas dezenas de metros sob a superfície, e ainda que tivesse, haveria ainda a questão da viabilidade econômica, da qual Pompeia, a cidade romana devorada pela erupção de um vulcão no monte Vesúvio, é um exemplo - atualmente, os arqueólogos que exploram ali um sítio estão na iminência de reenterrar o que encontraram devido à falta de investimento financeiro para prosseguir com as escavações.
Com efeito, em que pese provas científicas, ainda falta muito a ser descoberto para que se possa comprovar irrefutavelmente que o mundo de Tolkien um dia foi real, não obstante seus esforços para que sua obra tivesse uma singular verossimilhança. Por outro lado, se acatarmos as palavras do físico Albert Einstein: “Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado”, pode ser que não haja mais o que ser questionado quanto a isso. Ou ainda, se a equação for invertida, sendo que também não há provas suficientes que descartem terminantemente a existência do universo tolkieniano, então é razoável unir lógica e imaginação, o que não é pouco frequente na Ciência, e acatar a veracidade dos contos do Mestre de Oxford.
Christopher Tolkien, um dos filhos do autor, chegou a afirmar em uma entrevista ao jornal francês Le Monde: “Para mim, as cidades do Silmarillion são mais reais do que a Babilônia.”
Quando se olha para os dias da Antiguidade e além, tudo o que se pode fazer é conjecturas sobre o que pode ter sido ou não real. E isso não acontece somente na História, mas também nas ciências exatas, como a Física e Astronomia – os “Postulados de Niels Bohr”, a localização e formas de estrelas Novas, Supernovas e Anãs, a própria teoria do “Big Bang”, por exemplo, são modelos baseados em probabilidades aceitáveis, não verdades enquanto tais, posto que não podem ser provados.
Talvez Tolkien não tenha sido preciso o suficiente nos nomes de personagens, fatos e lugares em sua compilação e reorganização de dados sobre dias além da memória, mas quem poderia fazê-lo de forma mais acurada?
Se houve um passado além do período registrado pela História oficial, o mais próximo que se pode aceitar como “real” é o relato de Tolkien com seu método a partir da oralidade, seja através da língua ou das tradições preservadas pelos povos que habitam a “Terra Média” atual (tal lugar coincide com a Europa, guardadas as alterações geológicas no desenho dos mapas), encerrando a verdade em si em maior ou menor grau, tanto quanto é possível preservá-la através deste método.