Bilbo e os anões chegam na Cidade do Lago descendo o rio em barris
Não raro, os anões são uma
raça mal compreendida – à primeira vista, parecem exclusivamente teimosos,
pouco sociáveis, ambiciosos, isso somado à sua aparência “pouco simpática” para
alguns.
De fato, os anões não são um
povo tão “feliz” quanto os elfos – a razão disso, em grande parte, é que Sauron
os detestava particularmente e não media esforços para colocá-los em
dificuldades, como será visto a seguir.
Outro equívoco bastante
comum, partilhado até pela crítica, é o de que Thorin, o líder do grupo de
anões em “O Hobbit” seria especialmente “arrogante”...
Como senhor de uma das sete
casas dos anões, é de se esperar que ele tenha comportamento um tanto soberbo,
mas é discutível que ele seja meramente tratado como “arrogante”, pois como tal,
ele jamais procederia como é narrado em “O povo de Durin”, Apêndices de “O
Senhor dos Anéis”:
“(...)
Como então seria possível destruir Smaug (o dragão)? Foi no momento em que
Gandalf estava sentado ponderado sobre essas coisas que Thorin parou diante
dele e disse: - Mestre Gandalf, conheço-o apenas de vista, mas agora ficaria
feliz em conversar com você. (...) Pois dizem que você é sábio e conhece melhor
do que qualquer um o que acontece no mundo; há muitas coisas que me preocupam e
ficaria feliz em me aconselhar com você.”
Indivíduos arrogantes não
são conhecidos por reconhecer a sabedoria alheia e solicitar educadamente
conselhos.
Os anões são novamente
injustiçados com a falta de reconhecimento pela sua participação decisiva na
salvação da Terra Média do poder de Sauron.
Em “O Silmarillion”, J.R.R.
Tolkien conta que os anões foram criados para serem fortes e obstinados para
resistir às dificuldades e trevas do mundo onde habitariam.
Com efeito, quando planejou
subjugar toda a Terra Média através de seus Anéis de Poder, Sauron não
conseguiu dominar nem ler a mente dos senhores das 7 casas dos anões que
receberam os sete anéis a eles destinados. O seu único efeito sobre os anões
era aumentar seu desejo por riqueza, e torná-los mais ricos. Ao perceber que
seu ardil se tornara inútil com os anões, Sauron passou a odiá-los e a
perseguí-los, especialmente para tirar-lhes os anéis.
Não fosse o desejo feroz de
Thorin de derrotar Smaug e retomar Erebor, o que lhe custou a própria vida, de
Fíli e Kíli e muitos anões, ainda que movido por um desejo pessoal de vingança
contra Smaug, provavelmente o terrível poder de Smaug aliado às forças de
Sauron ao norte poderia ter mudado o curso da Guerra do Anel e da jornada de
Frodo para destruir o Um Anel (Com a expedição de Thorin, Smaug acabou sendo
morto pelo arqueiro Bard, o que acaba desencadeando a Guerra dos Cinco Exércitos,
cujo saldo é a derrota dos orcs e a reocupação de Erebor e Valle, os dois
bastiões que contiveram as forças de Sauron no Norte enquanto Frodo chegava à
Montanha da Perdição).
Em relação a isso, o próprio
Gandalf diz a Frodo e Gimli:
-
Senti pela morte de Thorin – e agora ficamos sabendo que Dáin morreu (primo de
Thorin, com sua morte, ele tornou-se o “rei sob-a-montanha” em Erebor), lutando
em Valle mais uma vez, ao mesmo tempo que lutávamos aqui. (...).
-
Mas, apesar disso, as coisas poderiam ter sido muito diferentes, e muito
piores. Quando vocês pensam na grande Batalha do Pelennor (diante
de Gondor, em “O Retorno do Rei”) não
devem se esquecer das batalhas de Valle e da coragem do povo de Durin (o
povo de Thorin/ Erebor). Pensem no que
poderia ter acontecido. Fogo de Dragão e espadas cruéis em Eriador (região
onde fica o Condado), noite em Valfenda.
Poderia não haver rainha em Gondor (Arwen, a filha de Elrond, Senhor de
Valfenda que se casou com Aragorn, ou “Elessar”, rei por direito do trono de
Gondor). Poderíamos agora ter esperanças
de retornar da vitória para encontrar apenas cinzas e ruinas. Mas isso foi evitado – porque eu encontrei
Thorin Escudo de Carvalho certa noite no início da primavera em Bri. (...)”
(“O povo de Durin”, Apêndices de “O
Senhor dos Anéis”) (grifo nosso).
Antes desses fatos, ainda,
por várias vezes, Sauron, quem já havia recuperado 3 dos 7 anéis dados aos reis
das sete casa dos anões (4 haviam sido incinerados pelos dragões, enquanto que
um deles foi tomado de Thráin, pai de Thorin, capturado, torturado e morto por
agentes de Sauron), mandou mensageiros aos anões, dizendo que se eles
recuperassem um “anel de pouca importância” que estava com um “ladrão” (referência
a Bilbo), ele lhes devolveria os 3 anéis que ainda existiam.
Os anões, certamente por
saberem quem era Sauron e o que pretendia, nunca responderam às suas ofertas.
Glóin, um dos seguidores de Thorin em O Hobbit e pai de Gimli, parceiro e amigo
do famoso elfo Legolas em “O Senhor dos Anéis”, procuraram Elrond, Senhor de
Valfenda, a quem contaram tal oferta em busca de conselhos, cuja consequência
foi a mobilização de forças para encontrar e destruir o Um Anel (o Conselho de
Elrond/ a Sociedade do Anel) (em Apêndices
de O Senhor dos Anéis).
Convém mencionar por último,
mas não menos importantes, os memoráveis feitos dos anões durante a Primeira
Era, na “Batalha das Lágrimas Incontáveis” (Nirnaeth
Arnoediad, em élfico), cujo desfecho foi trágico para os homens e elfos que
enfrentaram Morgoth, a personificação suprema do mal em Arda. Segue o relato da bravura dos anões nas próprias palavras de
J.R.R. Tolkien em “O Silmarillion” (Editora Martins Fontes):
“Últimos
de todas as forças orientais a se manterem firmes foram os anões de Belegost, e
assim conquistaram renome. Pois os naugrim (como os elfos
chamavam o povo anão) suportavam o fogo
com maior resistência do que elfos ou homens. Além disso, era seu costume usar
em combate máscaras enormes, horríveis de contemplar. E essas lhes foram de
grande valia contra os dragões. E, se não fossem eles, Glaurung (um dos
mais terríveis dragões da época) e sua
prole teriam queimado tudo o que restava dos noldor (um dos povos élficos). Os naugrim, porém, fizeram uma roda em
torno de Glaurung quando ele os atacou. E mesmo sua poderosa armadura não era
totalmente invulnerável diante dos golpes dos terríveis machados dos anões. E quando,
em sua ira, Glaurung se voltou e derrubou Azaghâl, Senhor de Belegost, e se
arrastou sobre ele, num último golpe Azaghâl enfiou-lhe no ventre uma faca,
ferindo-o de tal modo que ele fugiu do campo de batalha; e as feras de Angband (a
fortaleza de Morgoth), amedrontadas,
fugiram atrás dele.”
Assim, por mais que os anões
pensem demais em minérios e vivam trancados dentro de suas montanhas, seus
feitos de bravura garantiram contribuíram decisivamente para a derrota do mal
na Terra Média.