O portão principal de Erebor
O foco principal da aventura narrada em “O Hobbit ou Lá e de
volta outra vez” (título do original inglês) é, sem dúvida, a jornada
pessoal do hobbit Bilbo Bolseiro, o qual, vencendo seu comodismo, ruma ao
desconhecido arriscando a própria vida na esperança de voltar mais evoluído, em
vários aspectos.
Consideração confirmada nas palavras de Antero Leivas (2012, p. 61): “A trama de viagem é um dos mais
antigos recursos da literatura narrativa e é a base para muitos mitos e contos
de fadas, assim como nos romances modernos. (...) A jornada tem uma estrutura
psicológica subjacente, serve como símbolo de desenvolvimento.” (Considerações sobre O Hobbit. Revista
Fantastik edição especial O Hobbit. São Paulo: Mythos Editora, n. 11, dez. 2012).
Mas O Hobbit fala não apenas da viagem de Bilbo Bolseiro
além das fronteiras do Condado e de seu retorno posterior à sua confortável
toca.
Outro jornada não menos importante acontece com os 12 anões
liderados pelo seu líder Thorin, que junto de Bilbo e Gandalf, rumam para
Erebor, outrora seu reino e seu lar.
Ao contrário de Bilbo, que sai do seu lar por uma escolha,
os anões são expulsos de Erebor, seu reino sob a Montanha Solitária, pelo cruel
dragão Smaug. Deixados à própria sorte, vagando de um canto a outro, Thorin e
seus doze fiéis paladinos sempre olharam para aquele pico isolado no norte da
Terra Média com o anseio de quem há muito foi privado de sua morada materna.
Sentimento, aliás, lembrado na música tema do filme “Song of
the Lonely Mountain” (tradução minha):
“Distante se elevam as Montanhas Sombrias
Deixe-nos contemplar nas alturas
O passado, nós vemos mais uma vez
Nosso reino, uma distante luz.”
Deixe-nos contemplar nas alturas
O passado, nós vemos mais uma vez
Nosso reino, uma distante luz.”
Portanto, todo seu esforço, certamente mais longo e penoso
do que o de Bilbo, é antes de tudo pela volta para sua casa injustamente tomada.
Dessa forma, a obra remete duplamente a um processo de
busca, seja ela interna ou externa, através dos personagens de Bilbo Bolseiro,
que espera retornar à sua toca no Bolsão, e dos anões, que pretendem
reconquistar Erebor.
No filme, essas duas buscas se evidenciam e se convergem na
cena comovente quando Bilbo anuncia aos anões que seguirá com eles até o final,
apesar dos riscos, porque ele já tem um lar e gostaria de ajudar os anões a
recuperar o seu.
No fim, o que está em jogo na obra parece ser uma única e
simples coisa: o lar. O lar de Bilbo, o lar perdido dos anões... ouro, prata,
dragão e o Anel se tornam apenas parte da paisagem da estrada que leva de volta
para casa – lá (Erebor) e de volta (Condado).
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