Dáin Pé-de-Ferro
Os anões são o povo em destaque em “O Hobbit”. Mas pouco
se sabe a respeito deles, salvo que são habilidosos na mineração e no trabalho
com metais, teimosos, e que são de baixa estatura, dentre outras
características obtidas num primeiro olhar.
Contudo, os anões são uma raça muito mais complexa do que
comumente se pensa, tanto em sua origem e costumes, quanto em seus feitos na
Terra Média.
J.R.R. Tolkien, no “Apêndice F” de “O Senhor dos Anéis” (WMF
Martins Fontes) comenta a respeito: “Os anões
são uma raça à parte. O Silmarillion relata sua estranha origem e a razão pela
qual são semelhantes aos elfos e aos homens, e, ao mesmo tempo, diferentes
deles (...).”
Com efeito, em “O Silmarillion” conta-se que Eru Ilúvatar, o deus único da mitologia
de Tolkien, após ter criado Arda, a
Terra, tinha em mente povoá-la com seres inteligentes e falantes. Tendo tomado
conhecimento dessa intenção, o Vala (um
dos poderes angelicais criados por Eru) Aulë,
o Ferreiro, resolveu adiantar-se ao seu Senhor, criando seres semelhantes
ao que teve conhecimento, mas à sua maneira, fazendo-os fortes, resistentes e
obstinados para resistir às investidas de Morgoth (a princípio Melkor, também um Vala, que se rebelou
contra Eru e se tornou “O Senhor do Escuro”, a quem Sauron servia e depois deu sequência aos seus intentos malignos),
quem há muito tinha deixado as Terras
Imortais para atormentar a Terra Média.
Quando Eru descobriu o que Aulë fizera, repreendeu-o por
ter se adiantado na tarefa que cabia somente a Ele. Em resposta, Aulë pegou seu
grande martelo para destruir os seres que criou, ao que estes, assustados, encolheram-se
de medo. Ao ver isso, Eru ordenou que o Vala não o fizesse, pois já era tarde
demais, as criaturas já estavam vivas e tinham sensibilidade. Então ordenou a
Aulë que as fizesse dormir nas profundezas da terra, até o dia em que lhe fosse
concedida a licença para deixá-los caminhar sobre o mundo.
Esta é, pois, a origem dos anões, ou naugrim, como foram chamados desde o princípio, e chamavam a si
próprios de khazad. Após elfos e
homens colonizarem a terra pela vontade Eru, os anões despertaram de seu longo
sono, e se juntaram a eles em seus feitos e lutas contra Morgoth e depois
Sauron.
Logo, os anões não são homens de baixa estatura, ou que
nos dias atuais possuem uma mutação genética chamada de Nanismo, nem nascem das pedras ou de um gigante morto, como sugere
muitas crenças absurdas dos homens, são uma raça à parte, como os elfos e os
hobbits.
O fato é que os anões eram uma raça que se multiplicava
devagar, pois não haviam muitas mulheres anãs, as quais não chegavam a um terço
de seu povo, e deste número, menos ainda de um terço se casava e proliferava.
As crenças infundadas tiveram mais respaldo ainda no fato de que as anãs só
deixavam seus lares em extrema necessidade, e eram tão semelhantes aos anões na
voz, na aparência e nas roupas que poucos poderiam distinguí-los uns dos
outros.
Mesmo após seu longo sono nas profundezas, os anões
despertaram conservando as características com as quais Aulë os fez. O próprio
Tolkien faz a descrição da raça no “Apêndice F” de “O Senhor dos Anéis”: “São em geral uma raça resistente e
obstinada, reservada, laboriosa, que conserva a lembrança de injúrias (e de
benefícios), amante da pedra, das gemas, das coisas que adquirem forma nas mãos
dos artesãos mais do que daquelas que vivem por si mesmas. Mas não são maus por
natureza, e poucos serviram ao Inimigo de livre vontade, não importa o que
possam ter alegado os relatos dos homens. Pois os homens de outrora cobiçavam
suas riquezas e as obras de suas mãos, e houve inimizade entre as raças.”
Tal relato explica ainda porque os anões não são uma raça
tão “popular”, e porque muitas vezes serem tratados como seres meramente
mal-humorados, mesquinhos ou gananciosos. Da mesma forma que os dragões desceram
do norte para pilharem seus tesouros (Ver post “Estrelando Smaug, o dragão, e sua espécie”), homens e elfos em
algum momento também procuraram obter indevidamente vantagem sobre suas habilidades
ou tesouros sempre conseguidos arduamente.
De longe o traço da raça que mais se sobressai é sua
habilidade com trabalhos manuais, especialmente envolvendo metais e pedras,
preciosos ou não. São obras suas, por exemplo, os portões de Moria e seus
majestosos salões, a cota de Mithril
que salvou a vida de Frodo, e os novos portões de Minas Tirith, após a Guerra
do Anel, dentre inúmeras outras obras.
Nenhuma arma na Terra Média, com excessão de algumas
espadas lendárias élficas (como Orcrist
e Glamdring, por exemplo) poderia ser
comparada aos machados e outras armas dos anões, fato, aliás, que pendeu a
favor de sua vitória em Azanulbizar, sua
guerra contra os orcs, os quais tinham força superior em número.
Ao que parece, os anões não tinham o hábito de dar nomes
próprios às suas armas, mas nem por isso elas deixaram de fazer diferença nos
grandes feitos da Terra Média. Um exemplo é a trágica “Batalha das Lágrimas
Incontáveis” (ou em élfico Nirnaeth
Arnoediad), onde o terrível dragão Glaurung
quase teve sua resistente couraça rompida pelos machados dos anões do reino
de Belegost, e finalmente, quase foi
morto pela faca do rei anão Azaghâl.
Nessa mesma ocasião, ficou evidente outra característica
exclusiva dos anões: sua resistência ao fogo e ao calor, pela qual conseguiram
resistir às chamas de Glaurung e cercá-lo, segundo é narrado em “O
Silmarillion”.
Finalmente, outro traço marcante dos anões é sua
longevidade: facilmente ultrapassam dois séculos de idade com vigor. O rei Dáin Pé-de-Ferro (quem aparecerá nas
próximas sequências do filme), quando sucumbiu lutando impetuosamente com seu
machado em Valle, durante a Guerra do
Anel, tinha 252 anos. O próprio Thorin
Escudo-de-Carvalho tinha 195 anos quando morreu na Batalha dos Cinco
Exércitos.
A
linguagem dos anões
Em geral, os anões usavam a língua comum, o Westron, ou a língua dos homens junto
dos quais porventura vivessem, uma vez que, após a destruição de seus reinos
por dragões ou outras criaturas maléficas, se tornaram um povo errante.
Por isso, seus nomes, como Gimli, Óin, Glóin, etc., eram originários de línguas humanas,
enquanto seus nomes verdadeiros, em sua própria língua, jamais revelavam a
ninguém de outra raça.
A sua língua de origem, por sua vez, foi aprendida por
poucos além de sua raça. Como escrita, utilizavam os Cirth, ou o Alfabeto de
Daeron, um elfo menestrel e mestre da tradição do rei Thingol de Doriath, um reino élfico da Primeira Era, quem elaborou
uma forma mais rica e ordenada. Eram letras semelhantes às runas nórdicas
atuais, e passaram dos elfos para os anões na época da estreita amizade entre
as duas raças, quando os reinos Eregion dos
elfos e Moria dos anões eram vizinhos na Segunda Era. Mas
ocorria também de muitos anões conhecerem os Tengwar de Fëanor, a escrita élfica, embora os Cirth sempre fossem utilizados
para registrar sua língua.
Os anões de Erebor, reino de Thorin Escudo-de-Carvalho, introduziram algumas alterações nos
Cirth, que passaram a ser conhecidas como “Modo de Erebor”, do qual um exemplo
pode ser encontrado no Livro de Mazarbul
(o diário que Balin, um dos 12 anões em
“O Hobbit”, manteve juntamente com seus seguidores enquanto tentavam
recolonizar Moria após a retomada de Erebor, achado tempos depois pela
Sociedade do Anel na câmara onde o próprio Balin estava sepultado).
Em outro post
anterior, “Como Thorin e os anões
salvaram a Terra Média”, discorro sobre o papel imprescindível dos anões na
última guerra contra Sauron, e como eles resistiram à sua tentativa de
submetê-los e transformá-los em sombra através dos Anéis de Poder.
Enfim, se há alguma coisa que cabe dizer sobre os anões,
é que são um povo injustiçado, apesar de seu modo particular de ser, foram
inimigos incomparáveis do Inimigo, em sua baixa estatura, foram gigantes contra
o mal sem medida que ameaçou devorar todos os povos livres da Terra Média.
Nem mesmo quando Sauron tentou aliciá-los,
prometendo-lhes os 3 que restavam dos 7 Anéis de Poder que foram dados aos
anões outrora, o que sabidamente era sinônimo de tesouros e poder; assim como a
devolução do reino de Moria, a “Maravilha do Mundo do Norte” nunca esquecido
pelo coração dos anões, desejando em troca que dissessem onde estava Bilbo e o
Um Anel, uma vez que conviveram por um tempo (como narrado em “O Hobbit”) eles
não se deixaram levar pela malícia enganosa de Sauron, e por duas vezes Dáin Pé-de-Ferro mandou o mensageiro de
Sauron sem resposta à sua “oferta”, conforme foi relatado por Glóin, pai de
Gimli, no Conselho de Elrond (“A
Sociedade do Anel).
Nenhum comentário:
Postar um comentário