Caros fãs de Tolkien, visitantes e seguidores deste blog,
Hoje venho em especial trazer um esclarecimento a respeito da minha obra "O hobbit: Um amigo para seu filho", que se faz especialmente necessário após uma matéria veiculada sobre a mesma em um conceituado jornal de uma das capitais brasileiras.
Fui entrevistado pela repórter via telefone, uma vez que nos encontrávamos em cidades distintas. Em determinado momento, precisei explicar que o conto "O Hobbit" de J.R.R. Tolkien não era essencialmente como uma fábula, na qual o propósito moral é evidente. E salientei, inclusive, que Tolkien evitava este
tipo de literatura, assim como alegorias, ou seja, histórias que trazem mensagens subjacentes à narrativa principal.
Enfim, tanto quanto pude argumentar, pontuei que o meu livro sobre "O Hobbit" era um convite para se enxergar vários bons exemplos que podem ser verificados através dos personagens "do bem" na aventura, exemplos os quais, para o próprio Tolkien, não tinham qualquer intuito doutrinador proposital, eram consequências espontâneas da interação bem versus mal que dá o tom principal na "Saga do Anel".
Em momento algum eu disse in verbis que O Hobbit era cheio de "alegorias" e "moral", como o jornal em questão publicuou:
“Originalmente, o autor escreveu essa história para contar à noite para
seus filhos. Eu uso esse potencial para mostrar a pedagogia que existe
por trás dos contos, cheios de alegorias e uma moral”.
Uma infeliz falha de comunicação, se não jornalisticamente, pelo menos tecnicamente: lembro-me de a ligação telefônica estar bem ruim na ocasião, o que certamente levou ao registro equivocado da minha mensagem, que pregava exatamente o contrário.
Alguns dias antes de a matéria ser publicada, no post "O filme: apenas bons comentários" (dezembro), eu falo exatamente da aversão que Tolkien tinha por alegórias, o autor inclusive deixou registrado em uma de suas cartas que durante sua infância, jamais gostara das fábulas de Andersen, por sempre "se insinuarem para ele".
Logo, conhecendo a biografia de Tolkien e respeitando-o como um verdadeiro discípulo, eu jamais publicaria ou diria algo que contrariasse sua obra e seus ideais.
Portanto, volto a repetir, como tenho feito tantas vezes neste blog e em outros veículos de comunicação:
"O Hobbit: um amigo para seu filho" não é um guia para se enxergar fábulas, alegorias e moralismo na obra de Tolkien, é apenas uma proposta para se observar os bons exemplos numa situação em que se pode se perceber claramente o bem e o mal, algo bem típico, aliás, dos contos de fadas de um modo geral, daí meu livro abranger quaisquer obras do gênero que se enquadrarem nesta proposta.
Mal-entendidos resolvidos, avante na jornada!
Marcus Pedrosa.
Um fino raio de luz para se somar ao brilho intenso e maravilhoso da obra de J.R.R.Tolkien.
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
terça-feira, 25 de dezembro de 2012
As espadas de O Hobbit: Gondolin
Tuor encontra o elfo Voronwë, quem o leva a Gondolin.
No livro “O Hobbit”, Elrond chama a atenção para as duas espadas encontradas na
caverna dos trolls por Gandalf e Thorin.
Quando apresentam as lâminas a Elrond em Valfenda, este lê
as inscrições em sua superfície, e diz: “São espadas antigas, espadas muito
antigas dos Altos Elfos do Oeste, meus parentes (ver post “O peregrino do
tempo” [novembro]). Foram feitas em Gondolin para as guerras contra os Orcs.
Devem ter vindo do tesouro de algum dragão ou da pilhagem de algum orc (antes
de pertencer aos trolls), pois os dragões e os orcs destruíram aquela cidade há
muito tempo.” (“O Hobbit”, capítulo “Um breve descanso” ed. WMF Martins
Fontes]).
Elrond então explica que em Gondolin as lâminas eram chamadas de Orcrist (“Fende-Orc” ou “Racha-Orc”, usada por Thorin, uma “espada
famosa”) e Glamdring (“Martelo do
Inimigo”, usada por Gandalf, outrora pertencente a Turgon, elfo senhor de Gondolin).
Mas o que era Gondolin? Como foi destruída?
Antes de responder a estas perguntas, convém comentar um
detalhe sobre a carreira de J.R.R. Tolkien: Quando escreveu o Hobbit, na década
de 20, ele já havia rascunhado, por assim dizer, a obra conhecida como “O Silmarillion” (ver posts anteriores),
começada enquanto ele ainda era um combatente nas trincheiras da Primeira
Guerra Mundial.
Ao mencionar Orcrist e Glamdring em O Hobbit, Tolkien
certamente considerou adiantar elementos da obra que ele próprio considerava
seu maior trabalho, e que viria a ser publicado tão logo as histórias sobre
hobbits e a saga do anel ganharam notoriedade.
Portanto, Gondolin, ou “Rocha Escondida”, um de seus sete
nomes, era uma poderosa e esplêndida cidade élfica da Primeira Era, escondida
entre colinas encantadas sem trilhas, e protegidas pelas Águias Gigantes,
construídas pelo rei élfico Turgon, filho
de Fingolfin, um dos poderosos reis
dos Elfos Cinzentos (os Noldor) que chegaram à Terra Média através do mar que a
separava das Terras Imortais além do Oeste.
Como os elfos, homens mortais e anões viviam em guerra
constante contra Morgoth, “O Senhor
do Escuro”, senhor de Sauron, Gondolin era a última linha de defesa, por assim
dizer, dos elfos, depois que todos seus reinos caíram.
Turgon, seu senhor, confiava que o segredo de sua
localização seria suficiente para garantir sua proteção, e após a Batalha das
Lágrimas Incontáveis (Nirnaeth Arnoediad,
em élfico), que suas tropas abandonaram, Turgon decidiu não tomar mais
parte na luta contra Morgoth.
Mas quando recebeu a notícia da queda dos outros reinos
élficos, Turgon começou a ser incomodado pela desconfiança e medo de traição,
levando-o a proibir qualquer habitante de Gondolin de deixar seu limite de
segurança.
Enquanto resistiu, a Cidade dos Sete Nomes foi cheia de
alegria e paz.
Até que justamente uma traição tão temida por Turgon,
considerada a mais vergonhosa dos “Dias Antigos”, por parte de um elfo chamado Maeglin¸que entregou o segredo da exata
localização da cidade quando foi preso por orcs após desrespeitar as ordens do
rei de não se afastar da cidade.
A traição do elfo foi mais condenável especialmente quando
este, apesar das ameaças de torturas terríveis, aceitou uma proposta do próprio
Morgoth, quem lhe garantiu o domínio sobre a cidade e a mão da filha de Turgon,
Idril Celebrindal, cuja mão fora
prometida a Tuor, um valoroso
guerreiro humano que havia sido aceito em Gondolin, o que contrariou Maeglin, que
por sua vez era apaixonado pela princesa.
Assim, num dia de festa, Morgoth enviou do norte suas tropas
de orcs, balrogs, lobos e dragões, de modo que a cidade foi irremediavelmente
sitiada.
Os inimigos romperam a guarda de cada um dos sete portões de
Gondolin, até sua última cidadela, arruinada junto de seu defensor,Turgon, quem
lutou bravamente com Glamdring em punho até o fim.
Muitos atos de bravura naquele dia foram dignos de registro,
inclusive de Tuor, quem salvou Idril de Maeglin, matando-o, e fugindo
finalmente por uma passagem secreta para fora de Gondolin destruída.
Com o passar do tempo, Tuor, sua esposa Idril e muitos dos
sobreviventes de Gondolin foram viver no litoral, e quando Tuor sentiu a
proximidade da velhice, cresceu-lhe no coração o desejo de fazer-se ao mar.
Então, Tuor construiu um grande barco, e juntamente com sua
amada, partiu em direção ao pôr-do-sol. Depois disso, nunca mais se teve
notícia deles, mas conta-se que ele passou a ser considerado como um elfo, indo
viver nas Terras Imortais.
Gondolin, contudo, havia deixado de existir. Seus únicos
vestígios no tempo, além dos contos de bravura de seus defensores, foram as
espadas Glamdring e Orcrist, ressurgidas do esquecimento nos dias de Bilbo Bolseiro
e sua aventura.
Fontes: O
Silmarillion, capítulo “De Tuor e da Queda de Gondolin”, de J.R.R. Tolkien.
sexta-feira, 21 de dezembro de 2012
Durin: As origens de Thorin
Gandalf enfrenta o Balrog de Moria (Em "O Senhor dos Anéis)
No filme “O Hobbit – Uma jornada inesperada”, conta-se que o
poderoso orc Azog estava decidido a
exterminar a linhagem de Durin e seu povo.
Quem, portanto, foi Durin?
Segundo as lendas dos anões, Durin foi o mais velho dos sete
pais de sua raça. Ele teria despertado para a vida nas profundezas de
Khazad-dûm (Moria, em “O Senhor dos Anéis), onde construiu um reino de grande
riqueza e poder, resistindo às eras e aos ataques de Sauron.
Durin viveu centenas de anos, e conta-se ainda que seus
descendentes lhe eram tão semelhantes que ele ficou conhecido como “Durin, o
Imortal”.
Assim, quando Khazad-dûm já estava sob o reinado de Durin
VI, sua população começou a diminuir, e devido à sua insaciável busca pelo raro
e valiosíssimo mithril (um metal
“leve como prata e resistente como aço”, do qual era feito o colete que salvou
Frodo do golpe de lança do Troll em “A Companhia do Anel”), escavaram muito
profundamente, despertando uma terrível criatura da Primeira Era, um Balrog (o qual é derrotado por Gandalf
em A Companhia do Anel), quem matou
Durin VI e encerrou os dias de esplendor de Moria, que desde então foi ocupada
por orcs e nunca mais teve um descendente do velho rei em seu trono de pedra.
Quando o exército de Thorin
e seu pai venceram a Batalha de Azanulbizar (ver post anterior), este queria
ocupar Khazad-dûm, mas foi prevenido de que “a ruína de Durin” o estaria
esperando.
Não se sabe ao certo se Dain Pé-de-Ferro (ver post anterior)
se referia ao próprio Balrog, que pode ter visto quando esteve diante dos
portões abertos de Moria para enfrentar Azog, ou se foi simplesmente uma forte
intuição.
Mas o fato é que Durin, assim como todos os pais das sete
casas dos anões, recebeu um anel mágico de Sauron para, como é contado em O
Senhor dos Anéis, escravizá-los e levá-los para a escuridão.
A questão é que os anões se mostraram mais fortes do que as
outras raças para cederem à magia de Sauron. O anel não prolongava suas vidas,
não subjugava suas vontades, nem os reduzia a sombras, como aconteceu aos nove
reis dos Homens (os Nazgûl, espectros
do Um Anel).
O único efeito adverso que anel produzia era aumentar sua
cobiça por ouro e riquezas, que no caso de Thrór, o rei de Erebor sucessor de
Durin e avô de Thorin, inflamou sua
paixão pelo ouro (como mostrado no filme, o que atraiu Smaug e a destruição de
Erebor); e no caso de Durin VI, a ambição por mithril, o que levou ao despertar
do Balrog das profundezas da terra onde certamente fora aprisionado durante a
Primeira Era, arruinando igualmente seu reino.
De qualquer modo, os anéis de Sauron podem ter levado os
anões à sua destruição, mas jamais à servidão. Por esta característica
indomável, Sauron os perseguia e detestava especialmente.
Fonte: O Povo de
Durin, Apêndices de O Senhor dos
Anéis.
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Anões contra os Orcs
Thorin na Batalha de Azanulbizar
No filme “O Hobbit”, fica evidente a inimizade entre os orcs
e os anões, especialmente da parte do anão Thorin Escudo de Carvalho.
As origens desta diferença não estão na obra “O Hobbit”, e
no filme é corretamente apontada na “Batalha de Azanulbizar”, a guerra entre os
orcs e os anões, que na descrição do próprio Tolkien, “foi longa e mortal,
travada em sua maior parte nos lugares profundos embaixo da terra”.
Outra discórdia bem marcada no filme, porém não tão mortal,
está entre os anões e os elfos, a qual é perceptível também em O Senhor dos
Anéis, especialmente através de Legolas e
Gimli, quem depois se tornam amigos.
Em O Hobbit das telas, ela teria começado quando os elfos se recusaram a
prestar ajuda ao povo de Durin quando Smaug atacou Erebor.
Na verdade, os atritos entre anões e elfos se iniciaram nos
dias da Primeira Era no universo de Tolkien, por razões que nada dizem respeito
a Smaug ou aos dragões. Na verdade, tal assunto merece um post próprio adiante.
Concentremo-nos, pois, na Batalha de Azanulbizar, ou para os
elfos, Nanduhiron, a guerra dos anões
contra os orcs (Azanulbizar era o nome do vale onde a guerra foi definida). Com
a destruição do reino de Erebor por Smaug, como já foi comentado no post “Uma
vontade de aço” (novembro), seu povo ficou abandonado à própria sorte.
O rei de Erebor então, Thrór (cuja riqueza e poder são bem
frisados no filme), com a mente perturbada pela perda de sua riqueza, resolveu ir
a Moria (Os salões abandonados que Frodo e seus companheiros atravessam em “A
sociedade do Anel”), na esperança de recuperar sua opulência de outrora.
Uma vez lá, ele adentrou os portões abertos, mas foi surpreendido
e decapitado por Azog (o mesmo que aparece
no filme), líder dos orcs que haviam ocupado Khazad-dûm (o reino de Moria na
língua dos anões). Escrevendo depois seu nome com uma faca no rosto do velho rei,
Azog mandou um anão que presenciou a cena dizer ao seu povo que eles seriam
tratados da mesma forma se fossem “mendigar” às suas portas.
Ao tomar conhecimento do terrível acontecimento, os anões
reuniram todas suas forças para vingar Thrór e reconquistar Moria.
Os orcs tinham vantagem numérica, mas os anões marchavam com
o brilho da ira nos olhos, e sua excelência no trabalho com metais lhes deixava
incomparavelmente mais bem armados. Entre eles estava Thorin (líder da
companhia em O Hobbit) e neto de Thrór. A primeira investida dos anões foi
repelida, Thorin, assim como seu pai, Thráin, foram obrigados a recuar, com
várias baixas.
O embate foi tão intenso que Thorin teve seu escudo
quebrado, e apesar de ferido, jogou o escudo quebrado fora e cortou um galho de
carvalho que usava como escudo ou clava (daí ser conhecido como “Escudo de
Carvalho”).
Mas essa não foi a única demonstração incomum de valentia
naquela batalha.
Dain Pé-de-Ferro, dos anões das Colinas de Ferro, um anão
considerado adolescente para a contagem daquele povo, viu seu pai ser morto por
Azog, e a fúria incandesceu de tal modo seu coração que o medo ou qualquer
receio foram esquecidos, de modo que Dain enfrentou e derrotou Azog, espetando sua
cabeça numa estaca diante dos portões de Khazad-dûm. (Ao contrário do que é
narrado no filme, em que Azog tem apenas um dos antebraços decepado por Thorin, e continua vivo até os dias de
Bilbo).
Azanulbizar havia acabado, e os anões, vencido. Mas foi uma
vitória com alto custo: cerca de metade dos anões haviam sido mortos e a outra
metade mal podia ficar de pé ou recuperar-se dos ferimentos. Nas palavras do
próprio Tolkien: “o número de mortos ultrapassava o cálculo de sua tristeza.”
Além do mais, os anões sequer entraram em Moria. Quando
Thráin, pai de Thorin gritou “Khazad-dûm é nossa”, Dain o advertiu: “Você não
vai entrar em Khazad-dûm. Somente eu olhei através da sombra do Portão. Além da
sombra ainda o espera a Ruína de Durin.”
Compreendendo o peso daquelas palavras, Thráin voltou-se
para Thorin e perguntou: “Você voltará comigo para a bigorna? Ou prefere
mendigar pão em portas orgulhosas?”
Seu filho lhe respondeu: “Para a bigorna. Pelo menos o
martelo manterá os braços fortes, até que possam empunhar armas mais afiadas.”
E assim se sucedeu de fato. Mas quis o destino, em seus
insondáveis desígnios, que Thorin usasse uma espada feita por elfos, Orcrist,
em élfico, “Racha Orc”.
A propósito, Orcrist, juntamente com Glamdring, a espada que
Gandalf passou a usar, são espadas antiguíssimas cuja procedência é Gondolin, uma cidade élfica da Primeira
Era, citada por Elrond no filme. Adiante, será falado também sobre este tema.
No próximo post, será falado sobre Durin, o tão comentado
ancestral de Thorin.
Fonte: “O Povo de
Durin”, Apêndices de “O Senhor dos Anéis”.
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
O filme: Apenas bons comentários
O "hobbit" Marcus e Gandalf
Saí da sala de cinema convencido de que Peter Jackson e
companhia não poderiam ter feito uma adaptação melhor do livro “O Hobbit”.
Como diz Gandalf, “histórias precisam de um polimento”, e o
filme de O Hobbit deu-lhe um à altura.
Na verdade fiquei surpreendido, o filme foi capaz de trazer,
em suas aproximadas 2:30 hs de projeção, muitas informações sobre o universo de
J.R.R. Tolkien além do conteúdo de O Hobbit puro e simples.
Primeiramente, Jackson precisava, creio, mostrar ao público
a ligação do filme com a trilogia “O Senhor dos Anéis”, que está à frente na
linha do tempo. Daí o prelúdio onde Frodo aparece na companhia do tio Bilbo,
antes de “Uma jornada inesperada” propriamente dita começar, aliás, de forma bem
parecida com o desenho animado de mesmo nome de 1977, com Bilbo soltando um
anel de fumaça de seu cachimbo.
Cena que, diga-se de passagem, juntamente com outras de
Gandalf, Bilbo e os anões fumando seus cachimbos, rendeu na classificação da
faixa etária do filme a advertência “violência e drogas lícitas”, indicando-o
para jovens a partir dos 12 anos de idade (!)... Como se, no dia-a-dia, a
violência que crianças ainda mais jovens são obrigadas a presenciar ou mesmo
vivenciar dentro de seus próprios lares, sem falar nas drogas lícitas e
sobretudo ilícitas, inexistisse.
Bem, o que quero dizer é que o termo “droga lícita” para
algumas baforadas de cachimbo soou pesado e hipócrita demais, não que eu
defenda o consumo de tabaco seja qualquer substância legal ou não, da mesma
forma que não aprovo a violência, que no filme, da parte de Bilbo e os
“mocinhos”, nunca é gratuita ou desnecessária, existe tão somente para combater
o mal. Em que pese minha opinião, tal censura poderá privar desnecessariamente
muitas crianças da experiência fantástica que é ter um primeiro contato com a
obra de Tolkien através do filme. Mas questionar o que manda as leis do país, por
mais absurdo que seja, não é o propósito deste blog, fica apenas o registro de
uma observação.
O legítimo intuito de minha obra “O Hobbit: um amigo para
seu filho”, e deste site é comentar um conto fantástico proveitoso aos pequenos
(e por que não grandes também), do ponto de vista educativo. Vale dizer ainda,
que não trato a obra de J.R.R. Tolkien como uma alegoria, uma “prosa
doutrinária” como fábulas e outros tipos de “histórias dentro de histórias”, as
quais não agradavam ao mestre e nem eram escritas por ele.
No entanto, seja lendo ou vendo o filme, é impossível não
captar as lições de coragem, justiça, solidariedade, amizade, entre outras que
inclusive abordo no meu livro, longe de esgotar as possibilidades. Tolkien
sempre frisou que seu propósito era tão somente criar um mito para seu povo - e mitos e seus personagens, inevitavelmente, levam
a exemplos e inspirações, e é isso que levo em conta, preservando o ideal do
mestre de Oxford.
Naturalmente, a linguagem do cinema exige alguns toques
especiais, principalmente tiradas cômicas. O próprio livro tem sua dose de
humor, mas nada que chegue à exibição dos arrotos sonoros dos anões na toca de
Bilbo, isso foi invenção exclusiva dos produtores do filme, e obviamente, não
têm nada de instrutivo.
Outro “mal entendido” que eventualmente pode surgir tanto em
quem vê o filme quanto quem lê o livro é o fato de Bilbo ser considerado um
“ladrão”. Muitos podem questionar se é adequado tomar lições de um personagem
assim conceituado. “Burglar”, o próprio termo em inglês que Tolkien usou, de
fato é traduzido como “ladrão”, “arrombador”. A questão é que, quando Gandalf
resolveu inserir Bilbo na jornada, ele tinha em mente alguém que fosse capaz de
infiltrar-se na Montanha Solitária e passar despercebido por Smaug, e ninguém
melhor do que um hobbit tinha tais habilidades “furtivas”.
Assim, a palavra “ladrão” provavelmente foi um entendimento
dos anões segundo sua forma de pensar, ou ainda, a maneira mais simples que
Gandalf deve ter encontrado para convencê-los da necessidade de um elemento
estranho que pudesse invadir seus sagrados salões para espionar sem ser percebido.
No filme, o descontentamento de Bilbo com o tratamento de “ladrão” é evidente,
apoiado inclusive pelo velho anão Balin, o mais sábio e perspicaz da companhia.
De volta ao filme, (as informações adiante não visam à
crítica do filme, que para mim é irretocável, servirão tão somente para situar
melhor iniciados ao universo de Tolkien ou mesmo fãs acerca de seu enredo em
geral) as conexões com “O Senhor dos Anéis” se reforçam com a presença de
Galadriel e Saruman em Valfenda, numa reunião que não consta no livro, mas
chama a atenção por mencionar Sauron e o “Necromante”, um bruxo capaz de trazer
de volta espíritos malignos.
Na verdade, Sauron e o Necromante são a mesma pessoa. Quando ainda era servo de Morgoth, o “Senhor
do Escuro”, Sauron montou uma fortaleza no leste na Floresta Verde (na época de
Bilbo, conhecida como Floresta das Trevas), chamada Dol gudur,que na língua élfica Sindarin, quer dizer “Montanha da
magia negra”, a partir de então passou a ser conhecido como “Sauron, o
Necromante”, por despertar espíritos dos mortos para servi-lo.
Esta fase de Sauron, assim como Dol gudur, e Ungoliant, a primeira aranha gigante que
infestou florestas com suas crias (adiantando as aranhas gigantes que deverão
surgir nos próximos filmes, segundo o livro), são figuras de O Silmarillion, obra de Tolkien que fala
da criação de Arda (a Terra) e suas raças e eventos, sobretudo da 1ª e 2ª eras,
portanto, não estão em O Hobbit.
Ambos são citados no filme por Radagast, quem também não faz parte da trama de O Hobbit, e é um
personagem vagamente comentado pelo próprio Tolkien, exceto por ser um Istari, ou mago da mesma ordem de
Gandalf e Saruman, que preferiu retirar-se nas florestas para conviver com os
animais, principalmente pássaros.
Por alguma razão, Jackson resolveu explorar melhor este personagem
pouco conhecido, o que, para mim, foi uma grata surpresa. É comovente a intimidade que o personagem tem
com os bichos da floresta, e seu trenó de lebres foi inesquecível.
Através dele, reforçou-se a ligação de alguns eventos de O
Hobbit com as maquinações de Sauron, que pretendia recuperar seu anel e sua
força, servindo principalmente de explicação para os momentos de ausência de
Gandalf na jornada (como ele mesmo diz a Thorin no filme, “fui olhar à frente”,
ou seja, a Leste, Dol gudur, na Floresta das Trevas, caminho para Erebor).
Outra surpresa agradável foi a cena da Batalha de
Azanulbizar, a guerra entre os anões e os orcs, explicando o ódio entre as
raças; porque Thorin é chamado “Escudo de Carvalho”; e trazendo à cena o líder orc
Azog, morto nesta guerra, logo, inexistente na época de Bilbo e no livro.
Porém, Azog servirá de gancho para outro poderoso líder orc que deverá surgir
nos próximos filmes: Bolg.
Azanulbizar merece um post a parte, pois traz em si muitos
detalhes sobre Thorin e seu povo, e assim farei em breve.
De resto, 4 cenas do filme, na minha opinião, merecem
destaque:
- A cena da cidade de Valle, em todo seu esplendor, logo em
seguida destruída por Smaug sem nenhum motivo, mostrando sua indizível
perversidade;
- Quando Bilbo, invisível pelo anel, pensa em matar Gollum,
mas impedido pela compaixão, recolhe sua espada;
- A empatia e solidariedade que Bilbo demonstra logo depois com
os anões, quando decide seguir com eles: como ele já tinha seu lar, ele iria
ajudar os anões a recuperar o deles.
- E a melhor: a cena em que todos estão dependurados numa
árvore caindo na beira de um precipício: não importam as circunstâncias,
deve-se resistir com coragem, lutando com o que se tem às mãos (pinhas em
chamas), acreditando que pode chegar ajuda dos amigos (Bilbo salva Thorin de
ser decapitado) ou “do céu” (as águias gigantes). É a cena que resume a maior
mensagem da obra.
De resto, dentre outras mudanças e acréscimos que não
carecem comentários, a música “Song of the lonely mountain” encerra o filme com
chave de ouro, ou seria melhor, “chave de Erebor”, composta e interpretada por Neil
Finn, a qual também receberá um post exclusivo com a minha tradução para o português.
E a jornada continua...
domingo, 2 de dezembro de 2012
Dando sequência às crônicas dos principais personagens de "O Hobbit", hoje falaremos sobre o
elfo Elrond.
elfo Elrond.
O PEREGRINO DO TEMPO
O elfo Elrond, assim como seu irmão gêmeo, Elros, nasceu de
um amor entre um elfo e uma meio-elfa, daí ser chamado às vezes de “Elrond
Meio-elfo”.
Sendo-lhe dado, nessa condição, o direito de escolher entre
a vida mortal e a imortal, Elrond optou por ser contado entre os elfos, vivendo
através das eras até os dias da Terceira Era, quando Bilbo encontrou o anel de
Sauron (cerca de 6.000 anos).
Nos dias de Bilbo, certamente, nenhuma outra criatura na
Terra Média, a não ser Gandalf, conhecia tão bem Sauron, o Abominável, quanto Elrond.
Combatendo-o na Segunda Era, teve seu reino destruído pelas hostes de Sauron, o
que levou-o a construir um novo reino no vale Imladris, tornando-se assim o
senhor do Rivendell (Valfenda), que nos dias de Bilbo, seria considerada “a
última casa amiga” por ele e a companhia dos anões em sua longa e perigosa
jornada rumo à Montanha Solitária.
Nos fins da Segunda Era, quando homens e elfos uniram forças
para derrotar Sauron, Elrond estava novamente diante do antigo e terrível
inimigo, juntamente com o rei Elendil (pai de Isildur, quem cortou o anel da
mão de Sauron) e o rei elfo Gil-galad.
O poder e a sabedoria de Elrond não apenas foram úteis a
Bilbo e aos anões em sua demanda, como também foram úteis na salvação de toda
Terra Média quando formou o Conselho que levou o seu nome, criando a “Companhia
do Anel” para auxiliar Frodo a destruir o Um Anel de Sauron para derrotá-lo
definitivamente.
Fontes: O Hobbit, O
Senhor dos Anéis e O Silmarillion, de J.R.R. Tolkien
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