Christopher Tolkien (Fonte: tolkienbrasil.com)
Desde
a década de 70, a literatura de J.R.R. Tolkien tem influenciado outros
escritores, artistas e mundo todo, através da heroica e emblemática luta de uma
minoria contra o mal.
E muitos têm explorado o universo de Tolkien
além da inspiração, numa cobiça exagerada e a qualquer custo comparável aos
efeitos que seu “Um Anel” provoca em sua ficção – e agora fora dela.
Christopher Tolkien, um dos 2 filhos do autor
que ainda vivem, de um total de 3, hoje com 88 anos, após 40 anos de
afastamento total da mídia, concedeu uma entrevista exclusiva ao Le Monde no dia 09 em julho de 2012, na
qual manifestou um profundo descontentamento com a forma que o legado de seu
pai vem sendo explorado comercialmente.
De
carona no sucesso de “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit” (os únicos que J.R.R.
Tolkien publicou pessoalmente), muitos escritores, artistas e empresários levam
ao mercado produtos e versões que não dão a mínima à sua essência, visando
estritamente lucro comercial, num mercado que já movimenta bilhões de dólares –
“Tolkien” praticamente se tornou uma espécie de “marca”.
Já
ocorreram inclusive disputas judiciais entre os herdeiros de Tolkien e empresas
que comercializam produtos inspirados nos escritos de J.R.R. Tolkien (inclusive
a produtora New Line Cinema, que fez
os filmes), motivadas por dinheiro e por deturpações da obra de Tolkien.
O
exemplo mais claro disso, o qual Christopher fez questão de ressaltar em sua
entrevista, são as adaptações para o cinema feitas por Peter Jackson – Em “O
Hobbit: uma jornada inesperada”, por exemplo, existem contextos e personagem
que não estão no livro.
“Tolkien tornou-se um monstro, devorado por
sua própria popularidade e absorvido pelo absurdo da nossa época. (...) Ampliou o abismo entre a beleza
e a seriedade do trabalho, e o que ele se tornou. E já foi longe demais para
mim. A comercialização reduziu o impacto estético e filosófico da obra a nada.
Há apenas uma solução para mim: Virar meu rosto para outro lado”,
disse indignado o filho do autor.
Ele
teria inclusive se recusado a conhecer Peter Jackson, diretor dos filmes,
justificando: “Por quê? Eles arrancaram
as vísceras do livro, tornando-o um filme de ação para jovens entre 15 e
25 anos”.
Desde
a morte do pai em 1973, Christopher, quem foi piloto de caça na Segunda Guerra
Mundial contra os Nazistas, tem dedicado um esforço extenuante reunindo
manuscritos do pai e debruçando-se sobre eles com o mesmo método, criatividade
e paixão para levar ao público obras como: “O Silmarillion”, “Contos Inacabados
de Númenor e da Terra Média”, “Os Filhos de Húrin”, “Mr. Bliss”, “O Fazendeiro
Gill de Ham”, “As Cartas de Papai Noel”, etc.
“Por
mais estranho que possa parecer, eu cresci no mundo que ele criou. Para mim, as
cidades de O Silmarillion são mais reais do que a Babilônia”, comentou o herdeiro de Tolkien.
O Hobbit por Marcus
Diante
de tamanho desconforto da família Tolkien com o oportunismo sobre seu legado
para lucrar através de materiais de qualidade e fidelidade discutíveis, vejo-me
na obrigação de esclarecer minha relação com as obras de Tolkien, e mais
especificamente os fins do meu livro “O
Hobbit: Um amigo para seu filho – os contos de fadas na educação das crianças”.
Posso
dizer com segurança e provas que minha aproximação às obras de Tolkien
(ironicamente, através dos filmes), e todo meu trabalho derivado na escrita e
no desenho, foi resultado de uma profunda paixão e nunca visou fins financeiros.
o Rei élfico Fingolfin desafia Morgoth (O Simarillion), por Marcus Pedrosa
Minha
relação com o legado de J.R.R. Tolkien sempre foi pautado pela legítima
reverência de um discípulo para com seu mestre.
Quando
publiquei o livro “O Hobbit: um amigo para seu filho” tudo o que eu fiz foi
levar ao público um artigo escrito para avaliação de semestre na faculdade de
Letras em 2004 (Inclusive, ter conhecido e mergulhado nas obras do mestre então
impediram-me de desistir do curso, o que eu cogitava na época). Não fosse sua
inspiração e os aprendizados que sua obra me proporcionou, talvez eu nunca
tivesse escrito uma linha que fosse até hoje, seja sobre seu universo ou não, e
Deus sabe em que caminhos eu teria me enveredado.
Assim,
Tolkien para mim nunca será sinônimo de uma marca, dinheiro, fama, seja lá o
que for de mais calculista e mesquinho – será antes de tudo um motivo para se
viver, uma causa para se lutar, sempre – a maior premiação que recebi por
contribuir, ainda que modestamente, para levar o seu legado a um número cada
vez maior de pessoas, além de mantê-la viva.
Não
sei se Christopher Tolkien e seus herdeiros têm conhecimento do meu livro e
desenhos (muito embora eu os tenha enviado à Embaixada da Inglaterra no
Brasil), enfim, espero que minha obra não seja vista como mais uma das garras
do dragão ambicioso que está dilacerando o legado da família Tolkien.
A
minha obra fala por si. Somente ousei publicar algo relacionado a Tolkien (vale
dizer, o “esboço” do meu livro já existia desde 2004, quando sequer existia
planos de se fazer um filme sobre “O Hobbit”), para convidar os leitores, antes
de tudo, a ler os próprios livros de
Tolkien e enxergar neles bons exemplos que possam especialmente ser
transmitidos a crianças, como é natural a toda história contada – somos
inevitavelmente expostos a bons e maus exemplos através de seus personagens.
E
jamais permiti ou permitirei, em qualquer momento, que meu livro seja uma
ferramenta para se enxergar alegorias
(histórias dentro de histórias) ou tratar as obras do autor como “fábulas” (contos com fundo moral) – J.R.R.
Tolkien detestava declaradamente estas, e negava qualquer tentativa de
enquadrar seus livros naquela.
Finalmente,
deixo a epígrafe de um outro trabalho meu (não publicado) sobre Linguística,
inspirado nas línguas élficas, datado de 2005:
“Lendo os contos de
Tolkien, eu aprendi a amá-los, a ponto de querer dar-lhes uma sequência
infinita.
Por mais que eu me
esforçasse nas Letras, eu não seria capaz de fazer o que Tolkien fez, ao
registrar relatos de eras imemoriais da história da Terra. Restou-me fazer
então o que seus personagens mais admiráveis faziam, como vultos lendários de
bravura, honra e fidelidade.
Talvez eu não poderia
dar continuidade às estórias, mas eu poderia ser parte delas.”
Leia
mais sobre a entrevista de Christopher Tolkien na íntegra:
http://tocace.conselhobranco.com.br/o-universo-em-torno-da-obra/tolkien-o-anel-da-discordia-entrevista-com-christopher-tolkien/
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