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sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Afinal, quem são os anões?





 Dáin Pé-de-Ferro

Os anões são o povo em destaque em “O Hobbit”. Mas pouco se sabe a respeito deles, salvo que são habilidosos na mineração e no trabalho com metais, teimosos, e que são de baixa estatura, dentre outras características obtidas num primeiro olhar.

Contudo, os anões são uma raça muito mais complexa do que comumente se pensa, tanto em sua origem e costumes, quanto em seus feitos na Terra Média.

J.R.R. Tolkien, no “Apêndice F” de “O Senhor dos Anéis” (WMF Martins Fontes) comenta a respeito: “Os anões são uma raça à parte. O Silmarillion relata sua estranha origem e a razão pela qual são semelhantes aos elfos e aos homens, e, ao mesmo tempo, diferentes deles (...).”

Com efeito, em “O Silmarillion” conta-se que Eru Ilúvatar, o deus único da mitologia de Tolkien, após ter criado Arda, a Terra, tinha em mente povoá-la com seres inteligentes e falantes. Tendo tomado conhecimento dessa intenção, o Vala (um dos poderes angelicais criados por Eru) Aulë, o Ferreiro, resolveu adiantar-se ao seu Senhor, criando seres semelhantes ao que teve conhecimento, mas à sua maneira, fazendo-os fortes, resistentes e obstinados para resistir às investidas de Morgoth (a princípio Melkor, também um Vala, que se rebelou contra Eru e se tornou “O Senhor do Escuro”, a quem Sauron servia e depois deu sequência aos seus intentos malignos), quem há muito tinha deixado as Terras Imortais para atormentar a Terra Média.

Quando Eru descobriu o que Aulë fizera, repreendeu-o por ter se adiantado na tarefa que cabia somente a Ele. Em resposta, Aulë pegou seu grande martelo para destruir os seres que criou, ao que estes, assustados, encolheram-se de medo. Ao ver isso, Eru ordenou que o Vala não o fizesse, pois já era tarde demais, as criaturas já estavam vivas e tinham sensibilidade. Então ordenou a Aulë que as fizesse dormir nas profundezas da terra, até o dia em que lhe fosse concedida a licença para deixá-los caminhar sobre o mundo.

Esta é, pois, a origem dos anões, ou naugrim, como foram chamados desde o princípio, e chamavam a si próprios de khazad. Após elfos e homens colonizarem a terra pela vontade Eru, os anões despertaram de seu longo sono, e se juntaram a eles em seus feitos e lutas contra Morgoth e depois Sauron. 

Logo, os anões não são homens de baixa estatura, ou que nos dias atuais possuem uma mutação genética chamada de Nanismo, nem nascem das pedras ou de um gigante morto, como sugere muitas crenças absurdas dos homens, são uma raça à parte, como os elfos e os hobbits. 

O fato é que os anões eram uma raça que se multiplicava devagar, pois não haviam muitas mulheres anãs, as quais não chegavam a um terço de seu povo, e deste número, menos ainda de um terço se casava e proliferava. As crenças infundadas tiveram mais respaldo ainda no fato de que as anãs só deixavam seus lares em extrema necessidade, e eram tão semelhantes aos anões na voz, na aparência e nas roupas que poucos poderiam distinguí-los uns dos outros.

Mesmo após seu longo sono nas profundezas, os anões despertaram conservando as características com as quais Aulë os fez. O próprio Tolkien faz a descrição da raça no “Apêndice F” de “O Senhor dos Anéis”: “São em geral uma raça resistente e obstinada, reservada, laboriosa, que conserva a lembrança de injúrias (e de benefícios), amante da pedra, das gemas, das coisas que adquirem forma nas mãos dos artesãos mais do que daquelas que vivem por si mesmas. Mas não são maus por natureza, e poucos serviram ao Inimigo de livre vontade, não importa o que possam ter alegado os relatos dos homens. Pois os homens de outrora cobiçavam suas riquezas e as obras de suas mãos, e houve inimizade entre as raças.”

Tal relato explica ainda porque os anões não são uma raça tão “popular”, e porque muitas vezes serem tratados como seres meramente mal-humorados, mesquinhos ou gananciosos. Da mesma forma que os dragões desceram do norte para pilharem seus tesouros (Ver post “Estrelando Smaug, o dragão, e sua espécie”), homens e elfos em algum momento também procuraram obter indevidamente vantagem sobre suas habilidades ou tesouros sempre conseguidos arduamente.

De longe o traço da raça que mais se sobressai é sua habilidade com trabalhos manuais, especialmente envolvendo metais e pedras, preciosos ou não. São obras suas, por exemplo, os portões de Moria e seus majestosos salões, a cota de Mithril que salvou a vida de Frodo, e os novos portões de Minas Tirith, após a Guerra do Anel, dentre inúmeras outras obras.
Nenhuma arma na Terra Média, com excessão de algumas espadas lendárias élficas (como Orcrist e Glamdring, por exemplo) poderia ser comparada aos machados e outras armas dos anões, fato, aliás, que pendeu a favor de sua vitória em Azanulbizar, sua guerra contra os orcs, os quais tinham força superior em número.

Ao que parece, os anões não tinham o hábito de dar nomes próprios às suas armas, mas nem por isso elas deixaram de fazer diferença nos grandes feitos da Terra Média. Um exemplo é a trágica “Batalha das Lágrimas Incontáveis” (ou em élfico Nirnaeth Arnoediad), onde o terrível dragão Glaurung quase teve sua resistente couraça rompida pelos machados dos anões do reino de Belegost, e finalmente, quase foi morto pela faca do rei anão Azaghâl.
Nessa mesma ocasião, ficou evidente outra característica exclusiva dos anões: sua resistência ao fogo e ao calor, pela qual conseguiram resistir às chamas de Glaurung e cercá-lo, segundo é narrado em “O Silmarillion”.

Finalmente, outro traço marcante dos anões é sua longevidade: facilmente ultrapassam dois séculos de idade com vigor. O rei Dáin Pé-de-Ferro (quem aparecerá nas próximas sequências do filme), quando sucumbiu lutando impetuosamente com seu machado em Valle, durante a Guerra do Anel, tinha 252 anos. O próprio Thorin Escudo-de-Carvalho tinha 195 anos quando morreu na Batalha dos Cinco Exércitos.

A linguagem dos anões

Em geral, os anões usavam a língua comum, o Westron, ou a língua dos homens junto dos quais porventura vivessem, uma vez que, após a destruição de seus reinos por dragões ou outras criaturas maléficas, se tornaram um povo errante.

Por isso, seus nomes, como Gimli, Óin, Glóin, etc., eram originários de línguas humanas, enquanto seus nomes verdadeiros, em sua própria língua, jamais revelavam a ninguém de outra raça.

A sua língua de origem, por sua vez, foi aprendida por poucos além de sua raça. Como escrita, utilizavam os Cirth, ou o Alfabeto de Daeron, um elfo menestrel e mestre da tradição do rei Thingol de Doriath, um reino élfico da Primeira Era, quem elaborou uma forma mais rica e ordenada. Eram letras semelhantes às runas nórdicas atuais, e passaram dos elfos para os anões na época da estreita amizade entre as duas raças, quando os reinos Eregion dos elfos e Moria dos anões eram vizinhos na Segunda Era. Mas ocorria também de muitos anões conhecerem os Tengwar de Fëanor, a escrita élfica, embora os Cirth sempre fossem utilizados para registrar sua língua.

Os anões de Erebor, reino de Thorin Escudo-de-Carvalho, introduziram algumas alterações nos Cirth, que passaram a ser conhecidas como “Modo de Erebor”, do qual um exemplo pode ser encontrado no Livro de Mazarbul (o diário que Balin, um dos 12 anões em “O Hobbit”, manteve juntamente com seus seguidores enquanto tentavam recolonizar Moria após a retomada de Erebor, achado tempos depois pela Sociedade do Anel na câmara onde o próprio Balin estava sepultado).

Em outro post anterior, “Como Thorin e os anões salvaram a Terra Média”, discorro sobre o papel imprescindível dos anões na última guerra contra Sauron, e como eles resistiram à sua tentativa de submetê-los e transformá-los em sombra através dos Anéis de Poder.
Enfim, se há alguma coisa que cabe dizer sobre os anões, é que são um povo injustiçado, apesar de seu modo particular de ser, foram inimigos incomparáveis do Inimigo, em sua baixa estatura, foram gigantes contra o mal sem medida que ameaçou devorar todos os povos livres da Terra Média.

Nem mesmo quando Sauron tentou aliciá-los, prometendo-lhes os 3 que restavam dos 7 Anéis de Poder que foram dados aos anões outrora, o que sabidamente era sinônimo de tesouros e poder; assim como a devolução do reino de Moria, a “Maravilha do Mundo do Norte” nunca esquecido pelo coração dos anões, desejando em troca que dissessem onde estava Bilbo e o Um Anel, uma vez que conviveram por um tempo (como narrado em “O Hobbit”) eles não se deixaram levar pela malícia enganosa de Sauron, e por duas vezes Dáin Pé-de-Ferro mandou o mensageiro de Sauron sem resposta à sua “oferta”, conforme foi relatado por Glóin, pai de Gimli, no Conselho de Elrond (“A Sociedade do Anel).