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sábado, 9 de março de 2013

Filho de Tolkien lamenta abusos contra a obra de seu pai






Christopher Tolkien (Fonte: tolkienbrasil.com)






Desde a década de 70, a literatura de J.R.R. Tolkien tem influenciado outros escritores, artistas e mundo todo, através da heroica e emblemática luta de uma minoria contra o mal.

E muitos têm explorado o universo de Tolkien além da inspiração, numa cobiça exagerada e a qualquer custo comparável aos efeitos que seu “Um Anel” provoca em sua ficção – e agora fora dela.

Christopher Tolkien, um dos 2 filhos do autor que ainda vivem, de um total de 3, hoje com 88 anos, após 40 anos de afastamento total da mídia, concedeu uma entrevista exclusiva ao Le Monde no dia 09 em julho de 2012, na qual manifestou um profundo descontentamento com a forma que o legado de seu pai vem sendo explorado comercialmente.

De carona no sucesso de “O Senhor dos Anéis” e “O Hobbit” (os únicos que J.R.R. Tolkien publicou pessoalmente), muitos escritores, artistas e empresários levam ao mercado produtos e versões que não dão a mínima à sua essência, visando estritamente lucro comercial, num mercado que já movimenta bilhões de dólares – “Tolkien” praticamente se tornou uma espécie de “marca”.

Já ocorreram inclusive disputas judiciais entre os herdeiros de Tolkien e empresas que comercializam produtos inspirados nos escritos de J.R.R. Tolkien (inclusive a produtora New Line Cinema, que fez os filmes), motivadas por dinheiro e por deturpações da obra de Tolkien.

O exemplo mais claro disso, o qual Christopher fez questão de ressaltar em sua entrevista, são as adaptações para o cinema feitas por Peter Jackson – Em “O Hobbit: uma jornada inesperada”, por exemplo, existem contextos e personagem que não estão no livro.

 “Tolkien tornou-se um monstro, devorado por sua própria popularidade e absorvido pelo absurdo da nossa época. (...) Ampliou o abismo entre a beleza e a seriedade do trabalho, e o que ele se tornou. E já foi longe demais para mim. A comercialização reduziu o impacto estético e filosófico da obra a nada. Há apenas uma solução para mim: Virar meu rosto para outro lado”, disse indignado o filho do autor.

Ele teria inclusive se recusado a conhecer Peter Jackson, diretor dos filmes, justificando: “Por quê? Eles arrancaram as vísceras do livro, tornando-o um filme de ação para jovens entre 15 e 25 anos”.

Desde a morte do pai em 1973, Christopher, quem foi piloto de caça na Segunda Guerra Mundial contra os Nazistas, tem dedicado um esforço extenuante reunindo manuscritos do pai e debruçando-se sobre eles com o mesmo método, criatividade e paixão para levar ao público obras como: “O Silmarillion”, “Contos Inacabados de Númenor e da Terra Média”, “Os Filhos de Húrin”, “Mr. Bliss”, “O Fazendeiro Gill de Ham”, “As Cartas de Papai Noel”, etc.
“Por mais estranho que possa parecer, eu cresci no mundo que ele criou. Para mim, as cidades de O Silmarillion são mais reais do que a Babilônia”, comentou o herdeiro de Tolkien.

O Hobbit por Marcus

Diante de tamanho desconforto da família Tolkien com o oportunismo sobre seu legado para lucrar através de materiais de qualidade e fidelidade discutíveis, vejo-me na obrigação de esclarecer minha relação com as obras de Tolkien, e mais especificamente os fins do meu livro “O Hobbit: Um amigo para seu filho – os contos de fadas na educação das crianças”.

Posso dizer com segurança e provas que minha aproximação às obras de Tolkien (ironicamente, através dos filmes), e todo meu trabalho derivado na escrita e no desenho, foi resultado de uma profunda paixão e nunca visou fins financeiros. 

 o Rei élfico Fingolfin desafia Morgoth (O Simarillion), por Marcus Pedrosa

Minha relação com o legado de J.R.R. Tolkien sempre foi pautado pela legítima reverência de um discípulo para com seu mestre.

Quando publiquei o livro “O Hobbit: um amigo para seu filho” tudo o que eu fiz foi levar ao público um artigo escrito para avaliação de semestre na faculdade de Letras em 2004 (Inclusive, ter conhecido e mergulhado nas obras do mestre então impediram-me de desistir do curso, o que eu cogitava na época). Não fosse sua inspiração e os aprendizados que sua obra me proporcionou, talvez eu nunca tivesse escrito uma linha que fosse até hoje, seja sobre seu universo ou não, e Deus sabe em que caminhos eu teria me enveredado.

Assim, Tolkien para mim nunca será sinônimo de uma marca, dinheiro, fama, seja lá o que for de mais calculista e mesquinho – será antes de tudo um motivo para se viver, uma causa para se lutar, sempre – a maior premiação que recebi por contribuir, ainda que modestamente, para levar o seu legado a um número cada vez maior de pessoas, além de mantê-la viva.

Não sei se Christopher Tolkien e seus herdeiros têm conhecimento do meu livro e desenhos (muito embora eu os tenha enviado à Embaixada da Inglaterra no Brasil), enfim, espero que minha obra não seja vista como mais uma das garras do dragão ambicioso que está dilacerando o legado da família Tolkien.

A minha obra fala por si. Somente ousei publicar algo relacionado a Tolkien (vale dizer, o “esboço” do meu livro já existia desde 2004, quando sequer existia planos de se fazer um filme sobre “O Hobbit”), para convidar os leitores, antes de tudo, a ler os próprios livros de Tolkien e enxergar neles bons exemplos que possam especialmente ser transmitidos a crianças, como é natural a toda história contada – somos inevitavelmente expostos a bons e maus exemplos através de seus personagens.

E jamais permiti ou permitirei, em qualquer momento, que meu livro seja uma ferramenta para se enxergar alegorias (histórias dentro de histórias) ou tratar as obras do autor como “fábulas” (contos com fundo moral) – J.R.R. Tolkien detestava declaradamente estas, e negava qualquer tentativa de enquadrar seus livros naquela.

Finalmente, deixo a epígrafe de um outro trabalho meu (não publicado) sobre Linguística, inspirado nas línguas élficas, datado de 2005:

“Lendo os contos de Tolkien, eu aprendi a amá-los, a ponto de querer dar-lhes uma sequência infinita.
Por mais que eu me esforçasse nas Letras, eu não seria capaz de fazer o que Tolkien fez, ao registrar relatos de eras imemoriais da história da Terra. Restou-me fazer então o que seus personagens mais admiráveis faziam, como vultos lendários de bravura, honra e fidelidade.
Talvez eu não poderia dar continuidade às estórias, mas eu poderia ser parte delas.”

Leia mais sobre a entrevista de Christopher Tolkien na íntegra:


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